Sendo alvo de muitas críticas pelo comportamento no trabalho e na forma de enxergar o mundo, será a Geração Z mal compreendida? Ou falta empatia? Li recentemente uma matéria provocativa na CNN com a seguinte chamada: “O mercado de trabalho não está pronto para atender às demandas da Geração Z“. O autor, “sem passar pano” pra essa geração, reflete como o mercado atual e as pessoas precisam ser mais empáticas, aceitando as diferenças como possibilidades, e que a melhor geração é a que gera valor para todos.
Essas críticas nos trazem outra problemática que ronda há muito tempo o mundo do trabalho, e, muitas vezes, o âmbito familiar, médico e muitos outros – o etarismo. Neste caso, são as pessoas mais velhas o alvo da discriminação e da intolerância.
Sim, a geração Z é muito diferente e a principal característica que a diferencia das demais é sua natividade digital. Crescendo num mundo dominado pela internet, smartphones e mídias sociais, nasceram com dispositivos tecnológicos fazendo parte de suas vidas.
Somente esta simples variável já nos traz repertório suficiente para entendermos que estes jovens possuem uma forma de ver o mundo diferente e que eles têm outro ritmo e outra mentalidade. Então, o primeiro passo é entender que cada geração vem com seus próprios desafios e benefícios. Somos todos humanos em constante mutação na busca pelo crescimento e desenvolvimento.
Segundo dados recentes da ONU, a geração Z ocupa atualmente 36,7% da população mundial. A expectativa é de que, juntamente com a geração Alpha (nascidos a partir de 2010), ambas somem globalmente 50% em 2030. a geração Z já representa 32% da população mundial. Um percentual bastante representativo, que terá um forte impacto também na sua representatividade no mercado de trabalho.
Esta é uma tendência à qual as empresas precisam olhar com muita atenção. É transformar aquilo que hoje é visto com receio em uma fonte de novas visões e ideias.
A diversidade etária amplia a variedade de habilidades e perspectivas, enriquecendo a experiência e o conhecimento disponíveis na organização. Isso ajuda a melhorar as tomadas de decisões e incentiva a inovação. Também melhora a representatividade da empresa, possibilitando atender melhor a um público diversificado.
Praticas que promovam a diversidade fortalecem a reputação organizacional como um local de trabalho justo e inclusivo, e agrega valor à percepção de marca, não somente pelo olhar interno dos seus colaboradores, mas também pelo olhar do mercado.
O meu olhar para a Geração Z vai além das questões comportamentais consideradas no mundo laboral como “problemas”. Seguramente, eles serão os principais agentes de grandes mudanças que veremos no mundo.
Eles e elas já impactam a economia, tanto como consumidores quanto como parte da força de trabalho. E essa geração tem expectativas diferentes para seus empregos e carreiras, o que pode levar a mudanças na forma como as empresas operam e na economia em geral.
Demonstrado forte compromisso com a justiça social e ambiental, esses jovens são mais propensos a se envolver em questões relativas a direitos civis, mudança climática e igualdade. Essa orientação têm o potencial de gerar mudanças significativas em políticas e normas sociais e ambientais.
Valorizando a diversidade e a inclusão, a geração Z tende a desafiar e desconstruir estereótipos de gênero e de raça arraigados na nossa sociedade, o que pode ter um impacto profundo na forma como essa mesma sociedade entende e aborda essas questões.
Em relação ao comportamento como investidores, o estudo de 2022 do Bank of America, intitulado ‘Study of Wealthy Americans‘, mostrou que a próxima geração, que inclui a Z, herdará 73 trilhões de dólares dos seus antecessores. E essas novas gerações enxergam o ato de investir de forma muito diferente daquela de seus ascendentes, principalmente em três características: a primeira é que investimentos sustentáveis/de impacto passam a ser a regra; a segunda é eles e elas são mais céticos com relação aos modelos tradicionais de investimento; e terceira, querem estabelecer sua própria identidade filantrópica. Só isso já afetará diretamente as estratégias e práticas ESG de muitas empresas.
Já estamos observando e acompanhando um movimento crescente do mundo corporativo para criar impacto social e ambiental positivo. Empresas e organizações humanizadas e conscientes reconhecem seu papel na sociedade além da oferta de produtos e serviços. Elas estão envolvidas em movimentos e pautas de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas; Igualdade de Gênero; Direitos LGBTQIA+; Justiça Racial; Responsabilidade Social Corporativa e outros que carregam valores importantes para a Geração Z.
Ao invés de nos concentrarmos nos aspectos negativos, que podem ser encontrados em todas as gerações, vale observar os movimentos e mindsets que sinalizam que eles serão potentes agentes de transformação nas empresas e na sociedade.
O ponto principal é: como podemos ajudá-los da melhor forma. Como podemos ajudar a formar futuras lideranças, desenvolvendo neles e nelas habilidades e conhecimentos necessários para navegar neste mundo cada vez mais complexo?
Precisamos aprender a colaborar e a valorizar suas perspectivas, ajudando-os a amadurecer e a desenvolver todo o seu potencial.
Em um mundo de rápida evolução tecnológica, esses nativos digitais prometem ser a força motriz que se adaptará e prosperará em um ambiente em constante mudança. Conectados ao mundo de uma maneira que gerações anteriores nunca foram, estarão prontos para enfrentar os desafios vindouros, com todas as ferramentas necessárias para se sobressaírem.
É a geração do agora, mas também a geração do futuro. E, juntos, podemos construir um futuro do trabalho e da sociedade que possamos nos orgulhar.
Crédito da capa: Antoni Shkraba, em Pexels.