“85% dos empregos que existirão em 2030 ainda não foram inventados”. Foi esta afirmação, feita em 2018 pelo Institute For The Future (IFTF) que me fez parar e refletir profundamente sobre o título deste artigo. As minhas filhas têm 5 e 9 anos e me vi refletindo sobre como a escola e eu poderíamos ajudá-las a desenvolver competências profissionais para profissões que se quer sabemos quais serão. Também comecei a conjecturar sobre o que elas responderiam quando postas frente à clássica questão “O que você vai ser quando crescer?”.
Pensei que esta resposta certamente influenciaria as decisões sobre o que elas buscariam experimentar e estudar no caminho do desenvolvimento da profissão que elas respondessem. Mas e se estas profissões não existirem mais no futuro? E se a escola, nós da família e/ou a própria vida não as ajudarem a desenvolver habilidades como aprender, desaprender, reaprender e adaptar-se? Será que elas estariam fadadas a não ser apenas desempregadas, mas também a não ser empregáveis como alerta o historiador Yuval Noah Harari em seu livro Homo Deus?
Foi neste momento, com o objetivo principal de ajudá-las neste caminho, mas também de tornar-me um melhor profissional da administração e da educação, que comecei a estudar mais profundamente três temas: O Futuro do Trabalho, Competências Profissionais do Futuro e o Futuro da Educação para o Trabalho.
Estudando estes temas encontrei algum alento para minha inquietação de pai quando percebi que, apesar de não se saber exatamente quais serão as profissões do futuro, já se é possível pensar em um grupo de competências que podem servir às profissões de uma forma geral. O caminho passa por trabalhar no desenvolvimento das chamadas Soft Skills.
Pode-se dividir as competências profissionais em dois principais grupos: Soft Skills e Hard Skills. Em termos gerais podemos dizer que as Soft Skills, como Comunicação e Adaptabilidade, dizem respeito às competências comportamentais e subjetivas que são apresentadas pelas pessoas, enquanto as Hard Skills , como Matemática e Domínio de um idioma, dizem respeito às competências técnicas e mais objetivas ligadas diretamente à execução das tarefas de cada profissão.
A Revista da Você S/A fez uma análise de quase 300 páginas de pesquisas feitas por órgãos como o Fórum Econômico Mundial, Group, Capgemini e Falcone e que abrangeram mais de 14.000 pessoas de 1.000 empresas e 130 países, na sua edição de Agosto de 2018. Com base no cruzamento destas pesquisas, apresentou as que seriam as cinco Soft Skills mais importantes:
1. Comunicação – Colaborativas e dispersas globalmente, resta às pessoas se expressarem bem para atingirem seus objetivos. Neste sentido, é importante ter-se uma boa comunicação falada e escrita, saber administrar grandes volumes de informação, desenvolver escuta ativa e falas assertivas baseadas em técnicas como storytelling e dominar o inglês.
2. Resolução de Problemas – Os novos modelos de negócios e relações de trabalho exigem profissionais capazes de tomar decisões. Para tanto é necessário: estar aberto ao desenvolvimento de novos mindsets, desenvolver a capacidade analítica através não só do domínio de técnicas e metodologias diversas como design thinking mas também da obtenção de bagagem cultural diversificada, exercer a resiliência e ser disciplinado para seguir processos.
3. Atenção a detalhes – Profissionais nascidos na Era Digital são vistos como pessoas de visão rasa e simplista. Neste contexto, elas podem combater esta visão e as demais gerações também podem se aproveitar das oportunidades de melhoria e de inovação que residem nos detalhes. Também é importante aprender a diferenciar detalhes importantes dos inúteis, ser paciente, organizado e manter o foco.
4. Pensamento Digital – É preciso ir além de conhecimento sobre Big data e Inteligência Artificial, Precisamos aprender a usar a tecnologia ao nosso favor. A paixão pelo aprendizado também caracteriza esta soft skill, juntamente com a mentalidade empreendedora e a capacidade de trabalhar colaborativamente.
5. Poder de Adaptação – Você está preparado para o chamado Mundo VUCA? Um mundo de Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade? Neste mundo se faz necessário estudar tendências e preparar-se para elas, trabalhar duro continua sendo uma regra de ouro e é necessário entender e preparar-se para ter o controle emocional necessário para mudar.
Esta última foi a que me trouxe um pouco mais de tranquilidade, pois se aprendermos a ter adaptabilidade não importa o quanto o cenário mude, estaremos aptos a mudar e a entender o que é importante e necessário.
Mas, como apreender a ser adaptável em um mundo onde a economia de escala norteia decisões sobre economia de tempo e de recursos gerando eficiência?
Certamente não é fácil fugir da zona de conforto do padrão já estabelecido que reconhecidamente gera resultados. O ponto de atenção é que fazer a mesma coisa te leva aos mesmos lugares, e, lentamente para algumas áreas e rapidamente para outras. Ir para o mesmo lugar sempre não te leva a ter sucesso sempre quando o futuro está em plena e constante mudança. As pessoas precisam estar sempre atentas para quando, como dizia Renato Russo, “o futuro não for mais como era antigamente”.
Penso eu que precisamos desenvolver a adaptabilidade, permitindo-nos desafiar e desbravar o novo no dia-a-dia. Nas pequenas e nas grandes coisas. Experimentando novas experiências e vivendo novos desafios. Não devemos deixar o comodismo e a Síndrome de Gabriela nos afastarem do desenvolvimento desta competência tão importante para nosso trabalho e para a vida, pois você pode até ter nascido assim, crescido assim e ser mesmo assim, mas não precisa, como diz a música de abertura da famosa novela brasileira Gabriela, ser sempre assim.
Neste caminho algumas reflexões são válidas e podem nos ajudar a construir um mundo melhor: Será que as escolas estão ajudando a alunos apreenderem e vivenciarem a Adaptabilidade? E nós, pais? E o mercado de trabalho? Estas são provocações que temos que fazer no dia-a-dia daqueles com quem convivemos para ajudar a desenvolver esta importante soft skill.
Para finalizar, retomo a provocação inicial que deu origem a este artigo, respondendo objetivamente: não sei em que profissão nossos filhos vão trabalhar, mas posso dizer que, independentemente de qual ou quais profissões eles ocuparão ao longo da vida, certamente necessitarão ser constantemente adaptáveis se quiserem ter e manter o sucesso nas suas carreiras profissionais e certamente também na vida.
Crédito da imagem da capa: Catello Gragnaniello.
Excelente. Trabalho em um Instituto em SC, que prepara jovens em vulnerabilidade social para o mercado de trabalho. Todo o meu trabalho se volta para empreendedorismo criativo, colaborativo, cooperativo, ecoformador e transdisciplinar. Os preparo para lidarem com as emoções, para se auto empreenderem, para a importância da resolução de conflitos e de problemas. A importância do foco, do saírem da zona de conforto. Enfim, estou no caminho. Raniery, e também tenho alguns amigos aí em Natal, Zeca Melo do Sebrae. Forte
Parabéns pelo excelente artigo. Sua visão de futuro desperta hoje o profissional de amanhã.
Não é à toa que gosto de ler seus artigos e aprender com eles.
Artigo verdadeira bússola norteadora do mapa da Adaptabilidade coerente, e sensata no que concerne a ser um bom profissional.
Parabéns por tão importante e brilhante texto norteador, no que concerne aos rumos profissionais a serem profissional e futuramente.
Bela reflexão, Raniery! Tenha certeza que nos pega de surpresa e nos faz pensar o quanto vivemos reféns do presente sem pensar num futuro que está logo ali.
Excelente e inquietador artigo, parabéns!
Excelente artigo. Nos leva a refletir sobre como temos educado nossos filhos, mas também como será a permanência daqueles que atuam hoje e querem se manter futuramente. Adaptar-se é necessário, reinventar-se é crucial.
Que bom que estão gostando pessoal. Espero que tenha provocado reflexões e movimentação para construirmos o futuro.
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Uauu adorei o conteúdo, vou voltar mais vezes com
certeza!