Talvez a sua vida cotidiana esteja tomada por inúmeras tarefas e desafios diários difíceis de lidar.

Mas, e se você pudesse levar uma vida mais produtiva e saudável aprendendo a controlar partes do seu cérebro ligadas à automotivação?

Neurocientistas da Universidade de Duke deram o primeiro passo rumo a essa possibilidade.

Em um estudo inovador, eles identificaram formas das pessoas aprenderem a manipular circuitos neurais específicos ligados à motivação usando pensamentos personalizados e imagens mentais.

A nova técnica é parte de uma abordagem mais ampla, chamada de “neurofeedback“, que dá aos participantes uma leitura dinâmica da atividade do cérebro, neste caso, de uma área do cérebro crítica para a motivação.

O novo estudo foi detalhado na edição de hoje (16 de março) da revista Neuron.

O que é o Neurofeedback

Neurofeedback é a versão do século 21 do biofeedback, uma técnica que ficou conhecida na década de 70 por possibilitar que as pessoas pudessem monitorar aspectos de sua própria fisiologia, como frequência cardíaca, respiração, atividade muscular e temperatura da pele.

Evoluindo para os dias atuais, o que mais empolga no neurofeedback é que com os avanços tecnológicos das imagens do cérebro é possível identificar pensamentos motivacionais muito específicos.

 

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Neurofeedback é uma  técnica recente que ajuda a gerar estratégias para superar a ansiedade e o estresse ou para lidar com outras condições médicas. A nova técnica da equipe do R. Alison Adcock pode um dia ajudar pessoas que sofrem de depressão ou com problemas de déficit de atenção e hiperatividade. (Cortesia: Nourished Hub)

 

Tradicionalmente, o neurofeedback tem usado o eletroencefalograma ou EEG, em que padrões de atividade elétrica são monitorados de forma não invasiva por eletrodos afixados na cabeça. Porém, o EEG fornece apenas estimativas aproximadas de onde a atividade ocorre no cérebro.

Em contraste, esse novo estudo utilizou a ressonância magnética funcional (fMRI), que mede mudanças nos níveis de oxigênio no sangue, permitindo medições mais precisamente localizadas da atividade cerebral.

“Este novo método mostra uma rota direta para a manipulação de redes cerebrais envolvidas no funcionamento do cérebro e no comportamento cotidiano”, segundo o pesquisador sênior do estudo, R. Alison Adcock, que é professor assistente de psiquiatria e ciências comportamentais e diretor associado do Centro de Neurociência Cognitiva na Universidade de Duke.

Provocando sensações de prazer no cérebro

A equipe de Adcock vem trabalhando há oito anos para descobrir formas dos pensamentos e comportamentos ajustarem ou sintonizarem a função cerebral.

Usando imagens cerebrais de fMRI, a equipe permitiu aos participantes do estudo testemunharem em tempo real quando eles conseguiam ativar com sucesso os seus circuitos de recompensa na área tegmental ventral (ATV).

A ATV é uma área no cérebro que é uma fonte importante de dopamina, uma neuroquímica bem conhecida pelo seu papel na aprendizagem e na memória.

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O mesencéfalo (em vermelho) é  onde fica a área tegmental ventral (ATV). (Fonte: Life Science Databases/Wikimedia Commons)

 

A ATV é um dos principais centros dopaminérgicos, sendo o início do circuito de recompensa do cérebro. Assim, é importante na cognição, motivação, prazer, paixão e intensas emoções relacionadas ao amor.

De acordo com a pesquisa anterior de Adcock, foi observado que quando as pessoas recebem incentivos para que lembrem de imagens específicas, ocorre um aumento na ativação da VTA antes que a imagem apareça, prevendo se os participantes vão se lembrar com sucesso dessa imagem.

“Termômetro” visual do Neurofeedback 

No novo estudo, a equipe encorajou os participantes a gerarem sentimentos de motivação – usando estratégias pessoais – durante intervalos de 20 segundos.

Diferentes estratégias de motivação foram utilizadas pelos participantes, desde imaginarem os pais encorajando-os até criarem cenários hipotéticos em que tiveram seus esforços recompensados. No entanto, nenhum deles conseguiu aumentar por conta própria a sua atividade ATV de forma consistente.

Somente quando os neurocientistas deram aos participantes o neurofeedback da ATV, apresentado sob a forma de um termômetro, é que eles puderam aprender quais estratégias funcionavam.

A partir disso, os participantes passaram a aprimorar as estratégias mais bem sucedidas para elevar a sua atividade da ATV em comparação com aqueles (outros grupos de controle) que não puderam ver a sua própria atividade cerebral.

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A ilustração acima mostra o experimento no qual os participantes receberam feedback em tempo real durante uma ressonância magnética (fMRI) mostrando a atividade no centro de recompensa do cérebro. (Crédito: Jeff MacInnes, Duke University)

 

O treinamento de neurofeedback também ativou outras regiões envolvidas na aprendizagem e na experimentação de recompensas, confirmando que, pelo menos no curto prazo, o cérebro muda sua atividade de forma mais ampla, como resultado desse neurofeedback.

Novos estudos

Esta é a primeira demonstração e há muita coisa ainda para ser compreendida explica Adcock. Ele também faz uma ressalva no estudo informando que a equipe ainda não testou se o neurofeedback pode levar a mudanças no comportamento. A equipe tem planos para realizar o mesmo estudo em participantes com transtorno de depressão e déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

“Essas ferramentas poderão oferecer benefícios para todos, particularmente aqueles com depressão ou com problemas de atenção.”

– R. Alison Adcock, Universidade de Duke

 

Esta pesquisa foi apoiada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, pela Fundação Alfred P. Sloan, pela Esther A. & Joseph Klingenstein Fund, e pela Fundação Dana.

Fontes: Neuron, Kurzweil e Science Daily

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