A cura do câncer está cada vez mais próxima: pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford injetaram em tumores sólidos desenvolvidos por camundongos pequenas quantidades de dois agentes* imunoestimulantes. Essa vacina conseguiu eliminar todos os vestígios de câncer – incluindo metástases espalhadas em outros locais.
O estudo, publicado em 31 de janeiro na Science Translational Medicine, descobriu que a nova abordagem pode funcionar para diversos tipos de câncer, inclusive aqueles que surgem de forma espontânea.
Esse novo método de “vacinação in situ” pode ser uma terapia rápida, relativamente barata e que não causa efeitos colaterais, frequentemente observados com a estimulação imunológica do corpo, esperam os pesquisadores.
Ronald Levy (à esquerda) e Idit Sagiv-Barfi lideram o trabalho sobre esse possível tratamento contra o câncer. (Crédito: Steve Fisch)
“Ao aplicarmos os dois agentes juntos, vimos a eliminação de tumores em todo o corpo”, explicou Ronald Levy, professor de oncologia de Stanford e autor do estudo. “Esta nova abordagem ignora a necessidade de identificar alvos imunes específicos de tumores e não requer a ativação completa do sistema imunológico ou a customização das células imunes de um paciente”.
Muitas das abordagens atuais de imunoterapia são bem-sucedidas, mas cada uma delas tem desvantagens – desde os efeitos colaterais difíceis de tratar à demora e o alto custo dos tratamentos. “Nossa abordagem tem uma única aplicação com quantidades muito pequenas de dois agentes para estimular as células imunes apenas dentro do próprio tumor”, compara Levy. “Nos ratos, vimos efeitos surpreendentes no corpo inteiro, com a eliminação total de tumores”.
O método de Levy reage às células T específicas de câncer – um grupo de glóbulos brancos responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos (antígenos) – apenas injetando microgramas (um milionésimo de grama) dos dois agentes diretamente no local do tumor. Apenas as células T que se infiltraram no tumor são ativadas. Com efeito, essas células T são “pré-selecionadas” pelo corpo para reconhecer apenas proteínas específicas de câncer. Algumas dessas células T ativadas, deixam então o tumor original para encontrar e destruir outros tumores idênticos em todo o corpo.
Conforme explicou os pesquisadores, a abordagem funcionou “surpreendentemente bem” em ratos de laboratório com tumores de linfoma transplantados em dois locais em seus corpos. Injetar os dois agentes apenas no local de um tumor fez regredir não apenas o tumor tratado, mas também o segundo não tratado. Desta forma, 87 dos 90 ratos foram curados de câncer. Embora o câncer tenha ocorrido em três ratos, os tumores voltaram a regredir depois de um segundo tratamento. Os pesquisadores viram resultados semelhantes em camundongos com tumores de mama, cólon e melanoma.
Os ratos que foram geneticamente modificados para desenvolver espontaneamente o câncer de mama também responderam positivamente ao tratamento. Tratar o primeiro tumor que apareceu impediu o surgimento de futuros tumores, o que aumentou significativamente a vida útil dos animais.
Por fim, os pesquisadores buscaram explorar a especificidade das células T. Eles transplantaram dois tipos de tumores nos camundongos, sendo em dois locais as células de câncer de linfoma e, em um terceiro local, uma linha celular de câncer de cólon. O tratamento em um dos locais (do linfoma) fez regredir os dois tumores de linfoma, mas não afetou o crescimento das células de câncer de cólon.
“É uma abordagem bem direcionada”, acrescenta Levy. “Somente o tumor que compartilha alvos proteicos no local tratado é afetado. Estamos atacando alvos específicos sem termos que identificar exatamente quais proteínas as células T estão reconhecendo”.
Ensaio clínico
O atual ensaio clínico deve selecionar 15 pacientes com linfoma de baixo grau. Se bem sucedido, Levy acredita que o tratamento pode ser útil para diversos tipos de tumores. Ele prevê um futuro em que médicos injetem em humanos os dois agentes em tumores sólidos antes da remoção cirúrgica do câncer. Isso evitaria a recorrência do câncer devido a metástases não identificadas ou células cancerígenas persistentes, ou mesmo evitar o desenvolvimento de futuros tumores futuros que surjam devido a mutações genéticas como BRCA1 e BRCA 2.
Cientistas desenvolveram uma nova abordagem de imunoterapia que erradicou tumores em camundongos. Crédito: Sagiv-Barfi et al., Science Translational Medicine (2018)
* Foi utilizada, a combinação de oligodesoxinucleótidos enriquecidos com CG não metilado (CpG) que induz uma resposta imune em um curto trecho de DNA chamado de oligonucleotídeo CpG, trabalhando com outras células imunes próximas para amplificar a expressão de um receptor ativador chamado OX40 na superfície das células T. O outro agente, um anticorpo que se liga ao OX40, ativa as células T para atuar contra as células cancerígenas.
Fonte: Stanford Medicine
Maravilhoso…
De fato é uma abordagem fantastica
Atualmente estou pesquisando s/câncer
colorretal. Foi alta
mente estimulante e esclarecedora.Acompanharei este estudo.