No final dos anos 1960, Horst Rittel e Melvin Webber, dois urbanistas formularam o conceito de “problemas arredios” (wicked problems) ou “desafios complexos” (wicked challenges).
O conceito foi detalhado num artigo de 1973, chamado Dilemas em uma Teoria Geral do Planejamento e caracterizou estes “desafios” como ligados a fortes questões morais, políticas e profissionais.
Como exemplos de problemas complexos podemos citar: “a forma que devemos lidar com o crime e a violência nas escolas” ou “como devemos travar a luta contra o terrorismo” ou “o que seria uma boa política nacional de imigração”.
Na época, os autores exploraram a dificuldade de solucionar problemas relacionados às políticas públicas. O resumo do artigo delineia bem a proposta deles:
A busca por bases científicas para lidar com problemas de política social está fadada ao fracasso, devido à natureza desses problemas. Eles são problemas “arredios”, e a ciência se desenvolveu para lidar com problemas “domesticados”. Problemas de política pública não podem ser descritos de maneira definitiva. Além do mais, em uma sociedade pluralista não existe algo como um bem público indisputável; não existe uma definição objetiva do justo; políticas públicas que buscam lidar com problemas sociais não podem ser significativamente corretas ou falsa; e não faz nenhum sentido falar em “soluções ótimas” para problemas sociais a não ser que rígidas qualificações sejam anteriormente impostas. Ainda pior, não existem “soluções” no sentido de respostas definitivas ou objetivas [1].
NYU-X Holodeck (crédito: Winslow Burleson e Armanda Lewis)
Mais de 40 anos depois, exatamente em 04 de abril de 2016, Winslow Burleson, PhD, sugere que ambientes avançados de Cyberlearning (aprendizagem cibernética) com inovações em Realidade Virtual e em Inteligência Artificial são necessários para resolver estes “grandes desafios da humanidade” aparentemente insolúveis.
Burleson, que também é professor da New York University Rory Meyers College of Nursing, publicou suas ideias em um artigo no Journal of Artificial Intelligence Education.
Para Burleson, esses ambientes cibernéticos de aprendizagem irão se tornar ferramentas poderosas para resolver “desafios complexos”, que mesmo os especialistas mais capacitados até então não conseguiram.
Burleson e Armanda Lewis, Ph.D e co-autora do artigo, imaginam tal tecnologia – “Holodeck” por volta de 2041 – a qual ambos atualmente estão desenvolvendo um protótipo no NYU-X Lab, em colaboração com colegas da NYU Courant, Tandon, Steinhardt, e Tisch.
Esse protótipo Holodeck da NYU-X Lab aproveita o poder coletivo da computação compartilhada, dados distribuídos integrados, visualização imersiva e interação social para tornar possível a aprendizagem, pesquisa e inovação em larga escala, o que pode acelerar dramaticamente o modo iterativo de Rittel e Webber na solução de problemas.
Esse modelo futuro de experiência CyberLearning irá fornecer uma infraestrutura de software, hardware, integrando visual, áudio e componentes físicos (haptics, objetos e fabricação em tempo real).
“CyberLearning é uma ferramenta essencial para vislumbrar, refinar, e criar um mundo em que estamos ativamente “aprendendo a ser” – em experiências intrinsecamente motivacionais que capacitam cada um de nós a alcançar o nosso pleno potencial.” – Winslow Burleson
Burleson e Lewis preveem que em 2041, qualquer pessoa pode “ser” um professor ou até mesmo “criá-lo”, criar uma equipe, uma comunidade, um mundo, ou um universo próprio.
Eles esperam que estudantes de todos os níveis possam participar e tomar posse de seu processo de aprendizagem, contribuindo assim para a resolução coletiva dos “desafios complexos” da sociedade.
[1] RITTEL, H.; WEBBER, M. Dilemmas in a General Theory of Planning. Policy Sciences, v. 4, 1973, p. 155, tradução Filosofia do Design.