O Futurismo, campo de estudo que até recentemente era privilégio de uma minoria, está cada vez mais popular. Sim, nós do O Futuro das Coisas defendemos a ideia da democratização do Futurismo (como declarado no nosso Manifesto).
Porém, como era de se esperar, a popularização também está trazendo algum grau de confusão aqui no Brasil.
Há pessoas se auto-proclamando futuristas sem um mínimo de repertório e vivência. No final das contas, o prejuízo ficará com quem é mais iniciante: a audiência.
Então, para começar, o que é mesmo Futurismo?
O que define um bom futurista?
Resgatamos uma série de textos escritos em 2015/2016 pelo futurista Tiago Mattos compartilhando a sua visão. Uma das muitas visões possíveis. E, como ele próprio diz em um dos textos, essa visão pode evoluir: “Não estranhe se esse post ganhar edições de tempos em tempos.”
Com base nessa série, listamos quatro cuidados que Futuristas e interessados em Futurismo devem ter antes de aceitarem o papel de educadores, palestrantes e consultores:
1. Parece prudente que, antes de falar de Futurismo, se tenha pelo menos um conceito sobre o assunto
Justamente por ser um campo muito abrangente e incipiente, congregando estudiosos de diferentes áreas, o Futurismo não tem ainda uma definição universal.
Porém, aqui no Brasil o termo Futurismo está sendo usado sem muito cuidado e investigação.
Então, vamos começar pelo que pode ser considerado Futurismo:
Futurismo é a disciplina que investiga, explora, traduz e acelera as possibilidades de um futuro pós-emergente (entre cinco e dez anos).
E qual o trabalho do futurista?
– Observar como as evidências encontradas na ciência, na tecnologia e no empreendedorismo/mundo dos negócios podem afetar a cultura, os novos comportamentos e as novas estruturas da sociedade – aumentando nossa consciência e, assim, nos ajudando a tomar melhores decisões para gerar impacto positivo no mundo de hoje e de amanhã;
– Investigar e traduz novos modelos de negócios;
– Explorar, entender e traduzir as tecnologias exponenciais para orientar pessoas e organizações a usarem da melhor forma;
– Olhar para os grandes campos do comportamento humano, como a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia e a Economia;
– Basear-se em métodos científicos, utilizando dados e fatos, modelos matemáticos e matrizes para reduzir achismos. Mas também usando a intuição e o feeling;
– Um bom futurista, não choca as pessoas. Ele traduz as informações de forma empática e inclusiva.
Parte do trabalho do Futurista é tangibilizar cenários abstratos num discurso amigável, conduzindo as pessoas às realidades que, até então, só ele imaginou. É por isso que alguns dos maiores autores de ficção científica, como Isaac Asimov, são venerados pelos grandes Futuristas. Porque eles são grandes Futuristas. (Cortesia da imagem: Digital Trends)
Post completo sobre esse primeiro ponto aqui.
2. A Singularity não é a única escola de Futurismo do mundo
A Singularity é a grande referência de Futurismo no Brasil. Sem dúvida, um local de mentes brilhantes, merecedora de elogios, mas é apenas uma dentre muitas escolas de Futurismo do mundo.
Se você quer levar Futurismo a sério, precisa de parâmetros de comparação. Aqui no Brasil, um assunto tão diverso não pode perder a sua diversidade. “Uma monocultura que pode dar ao Futurismo um único sabor” como diz Tiago.
Muita gente séria e respeitada no mundo do Futurismo acha que Ray Kurzweil, co-fundador da Singularity, está per-di-do. Uma espécie de figura profética. Ele está completamente seguro e nada o faz abrir mão de suas certezas. (Crédito: Bill Wadman)
Se você concorda com este ponto de vista multidisciplinar, aqui está uma lista de escolas de Futurismo.
Post completo sobre esse segundo ponto aqui.
3. Antes de virar um educador de Futurismo, é preciso estudar/viver o Futurismo
A responsabilidade do bom Futurista é TRADUZIR cenários, então ele ou ela precisa falar fluentemente pelo menos duas línguas – a do Futurismo e a do não-Futurismo. Senão, a condução pode levar para entendimentos superficiais, vagos ou até equivocados.
Será que o público não está pagando um preço alto pela vontade de falar de alguns auto-proclamados Futuristas?
“Seja curioso em todos os campos, pois o futuro pertence aqueles que conectam a criatividade à tecnologia” – frase do escritor Walter Isaacson. De fato o Futurista precisa de repertório, advindo de sua curiosidade e estudo. (Crédito Forbes)
Se você está estudando Futurismo ou se já se considera um Futurista (veja o próximo cuidado) e se sente pronto para conduzir um workshop/curso/disciplina deve ter, antes de tudo, dois cuidados:
1- Noção da responsabilidadeque está assumindo ao se colocar no papel de educador.
2- Ao seguir em frente, deve dominar minimamente o assunto.
Dominar minimamente significa que a primeira parte é fácil: estude. Estude bastante.
A segunda é um pouco mais complicada: viva o Futurismo. Não seja o teórico do futuro.
Tiago ilustra:
Uma coisa é estudar sobre realidade virtual.
Outra coisa é estudar e usar, regularmente, realidade virtual.
Outra coisa é estudar, usar e fazer experiências em realidade virtual.
Outra coisa é estudar, usar, fazer experiências — e depois refletir sobre o futuro da realidade virtual.
A distância entre o primeiro e o último é gigante. O Futurismo só começa a ficar verdadeiramente interessante quando chegamos nesse quarto ponto.
Post completo sobre esse terceiro ponto aqui.
4. Você não vira Futurista se auto-proclamando Futurista. Você vira quando conquista o respeito dos outros
Como em qualquer profissão o papel, como título, tem pouquíssima importância. “Assim como nem todas as pessoas que recebem diploma de Direito são advogados, nem todo mundo que ostenta um diploma de Future Studies pode se denominar como tal.”
Ou seja, o que vale é o reconhecimento que um profissional tem perante os demais: especialistas na área, colegas de profissão, mercado, clientes, imprensa, sociedade como um todo.
Marc Goodman, autor de ‘Future Crimes’: não é da noite para o dia que você conquista o respeito dos demais.
Como meta pessoal, Tiago definiu 5 etapas para a sua jornada de futurista:
Alcançar ideias próprias — já que, no início dos seus estudos (como é natural), apenas replicava o que os outros diziam.
Documentar suas ideias através de uma matriz passível de avaliação.
Tornar essa matriz pública e colocar suas ideias a julgamento de profissionais com conhecimento e histórico dentro do Futurismo.
Por fim: ter essas ideias reconhecidas e/ou validadas por esses nomes de respeito.
Para você faz sentido essa jornada?
Post completo sobre esse quarto ponto aqui.