Colaboração e cooperação, desde sempre, são habilidades valorizadas no meio profissional e corporativo. Mas, existem diferenças entre elas:
Colaboração é uma parceria, uma união para produzir ou fazer algo juntos para atingir o mesmo objetivo; pode acontecer entre duas ou muitas pessoas.
Na cooperação, pessoas ou equipes ou organizações atuam ou trabalham em algo para benefício mútuo, em vez de competir entre si. Embora o objetivo de cada um seja o mesmo, os interesses são individuais. Baseia-se em você me ajuda e eu ajudo você a alcançar um objetivo comum para o benefício de nós dois individualmente.
A colaboração é uma atividade sincronizada e coordenada, assim como em uma orquestra em que o maestro rege os músicos e todos eles dão o seu melhor ao invés de cada um querer os holofotes. É uma atividade coletiva.
A cooperação é uma atividade conectiva em que nenhuma prioridade é dada ao participante ou ao grupo, mas encoraja e apoia ambos ao mesmo tempo; concentra-se na autossustentação ou na auto-organização. Não requer um maestro. Você pode sair ou entrar no grupo a qualquer momento, mas o trabalho cooperativo continuará, quer você participe dele ou não.
Assim como a colaboração, a cooperação é uma habilidade sociocomportamental, desenvolvida ao longo de nossas vidas, seja em atividades cotidianas, como oferecer uma carona para um colega de trabalho, até realizações grandiosas como o desenvolvimento de vacinas ou de lançar foguetes ao espaço.
Nós tendemos a associar a cooperação à virtude, e, essa perspectiva, se justifica: pessoas cooperativas são mais propensas a cuidar dos outros, demonstrar empatia por aqueles que sofrem.
Mas existe um lado B da cooperação que nos mostra como a evolução funciona. A cooperação é uma superpotência de nossa espécie, que nos ajudou não somente a sobreviver, mas prosperar nesse planeta. Por exemplo, para que um gene associado a alguma característica comportamental tenha seleção positiva – ou seja, aumentando a frequência desse gene na população – ele deve oferecer alguma vantagem aos seus portadores.
A cooperação é favorecida quando oferece uma forma de progredir e isso pode se materializar, por exemplo, na promessa de retribuição de favores. Para nós humanos, a cooperação também é um caminho para o status e prestígio, onde é possível ter uma melhor saúde, maior sucesso reprodutivo e maior expectativa de vida.
A cooperação é, no fundo, um meio pelo qual participantes – sejam genes, células ou indivíduos – melhoram sua própria posição no mundo. Isso não significa que toda cooperação seja estratégica e calculada. Mas a cooperação é “essencialmente uma forma de competição e, portanto, frequentemente faz vítimas”, observa Nichola Raihani, professora de evolução e comportamento na UCL e autora de The Social Instinct: What Nature Can Teach Us About Working Together (Instinto Social: o que a natureza pode nos ensinar sobre trabalhar juntos). Ela ilustra:
Todas as noites, quando as aeronaves pousam no aeroporto Reagan, em Washington DC, centenas de motoristas do Uber e Lyft esperando do lado de fora desligam coletivamente o aplicativo, marcando-se como indisponíveis. À medida que os passageiros saem do terminal, alguém do grupo dá o sinal e todos ligam novamente o app. A demanda aumenta e os preços sobem.
Sem querer julgar os motoristas – que trabalham longas horas e lutam para sobreviver –, este exemplo mostra claramente como a cooperação entre eles pode gerar custos mais altos para outras pessoas. Para subir os preços, desligam seu próprio aplicativo – correndo o risco de perder passageiros – enquanto confiam que seus colegas farão a mesma coisa.
“Quando enxergamos a cooperação também nessa perspectiva, podemos reformular fenômenos como corrupção, suborno e nepotismo como formas de cooperação hiperlocal que geram benefícios dentro de uma panelinha, mas resultam em custos sociais”, explica Nichola. Ela cita o Transparency International (relatório de 2021) que descobriu que 4 bilhões de libras foram gastos pelo governo no Reino Unido durante a pandemia em contratos com indicadores de corrupção, concedidos para aqueles com conexões políticas. “Conceder contratos a pessoas conhecidas é, em algum nível, cooperativo. Essas atividades parecem nefastas porque a maioria de nós fica de fora dos benefícios – ao mesmo tempo em que somos obrigados a absorver os custos”, complementa.
Essa cooperação patológica está presente na natureza. Chimpanzés machos unem forças para atacar – e até matar – seus rivais. Vespas se coordenam para matar a própria mãe, a rainha. “Se unir para progredir é algo recorrente na história da vida na Terra: cooperação e competição são dois lados da mesma moeda”.
Mas o que parece ser cooperação por um ponto de vista, muitas vezes é sentido como competição do outro lado. Nichola considera que a cooperação em escala global ou social é infinitamente vulnerável aos efeitos corrosivos de uma cooperação mais localizada. “Os gigantes do petróleo e do gás, por exemplo, se unem por meio de poderosas associações comerciais e gastam centenas de milhões de dólares todo ano em lobby para tentar desfazer políticas para a crise climática. Cooperação desse jeito tem potencial de destruição em escala planetária.”
Transpor nosso instinto
A cooperação desempenhou e desempenha um grande papel em nossa evolução, mas hoje, com quase 8 bilhões de pessoas no planeta, será necessário transpor nosso instinto e cooperar de formas diferentes, acredita Nichola. “É fácil cooperar localmente, com nossos parentes ou em relacionamentos já estabelecidos, mas é muito mais difícil depositar nossa fé em pessoas que não conhecemos (e talvez nunca venhamos a conhecer) e investir em ações que gerem benefícios globais”.
O que ela quer dizer é que, se olharmos para o futuro do trabalho e para os desafios da humanidade, precisamos encontrar melhores formas de cooperar – dimensionar a cooperação para os problemas que enfrentamos – e assim, não corrermos risco de nos tornarmos vítimas do nosso próprio sucesso.
Ilustração: Min Heo