O câncer pode acontecer na vida de qualquer pessoa. Qualquer um está sujeito a desenvolver a doença, seja por causas geneticamente pré-determinadas, ou por causas ambientais ou ainda, por costumes e hábitos, como fumar e se expor ao sol sem proteção.

Mais de 12 milhões de pessoas no mundo são diagnosticadas todo ano com essa doença, segundo a Organização Mundial de Saúde. Cerca de 8 milhões morrem. E esse número deverá aumentar nos próximos 15 anos.

Em 2030, se medidas efetivas não forem tomadas, haverá 26 milhões de novos casos e 17 milhões de mortes por ano.

No Brasil, nós ainda temos um agravante: dos 576 mil casos novos, em 2015, segundo a estimativa do INCA, cerca de 60% dos doentes serão diagnosticadas com câncer já em estágio avançado.

No caso específico do Brasil, o tempo médio de espera entre o diagnóstico e o início dos tratamentos com quimioterapia e radioterapia, é de 76,3 e 113,4 dias, respectivamente.

Mesmo com uma Lei que assegura o início do tratamento no SUS em um prazo de até 60 dias após o diagnóstico com laudo patológico, uma auditoria feita pelo TCU apurou que apenas 65,9% da demanda por radioterapia foi atendida no país em 2010.

Então, neste cenário, nós temos dois problemas:

1. 60% dos doentes no Brasil têm diagnóstico tardio do câncer, o que pode dificultar o êxito do tratamento.

2. O lapso de tempo entre o diagnóstico e o tratamento pode ser fatal. Apenas 65,9% começam o tratamento de radioterapia num prazo de 60 dias.

Agora, vamos considerar aqueles pacientes que começaram o tratamento. Eles estão passando pela radioterapia ou quimioterapia, apenas para citar dois tipos de tratamento.

A quimioterapia, que utiliza medicamentos extremamente potentes no combate ao câncer, destrói ou inibe o crescimento das células doentes. Mas também danifica as células saudáveis.  Ou seja, a quimioterapia interfere em outras funções fisiológicas preciosas dos pacientes, causando efeitos colaterais no caminho.

Haveria então uma forma de realizar o tratamento de forma mais precisa, sem maiores danos?

Medicina de precisão

Em grande parte, os tratamentos médicos estão previstos para um “paciente médio”. Só que, por razões genéticas, nem todo paciente reage a um tratamento médico da mesma forma.

Como definir tratamentos personalizados em vez da aproximação generalista atual?

Entra em cena a “medicina de precisão”.

Há doze anos, o Projeto Genoma Humano sequenciou e mapeou o nosso genoma. O projeto permitiu um grande salto para a “medicina de precisão” – tendo em conta as diferenças individuais nos genes de cada pessoa, como também diferenças ambientais e de estilos de vida.

Os avanços em termos de medicina de precisão já permitiram importantes descobertas e vários tratamentos novos que foram estabelecidos em função das características dos pacientes e em função das mutações específicas do tumor e não de acordo com o tipo de câncer.

Assim, uma pessoa com câncer de pulmão, pode ser tratada com um medicamento usado para tratar o câncer de mama, desde que o seu tumor compartilhe uma mutação similar para o qual este tratamento é eficaz.

Em junho desse ano, houve uma iniciativa sem precedentes, quando o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI) lançou, um amplo teste clínico para tratar a doença  com os seus mais de 200 tumores existentes. De acordo com o Dr. James Doroshow, diretor-adjunto do NCI, trata-se do teste clínico mais amplo e rigoroso da história em oncologia de precisão e tem potencial de transformar os tratamentos do câncer.

“Com a medicina de precisão, pela primeira vez, podemos ver claramente o monstro do câncer de uma forma que nós possamos identificar as lacunas para em seguida, entrar com o nosso arsenal e experimentar novas drogas” (Levi Garraway, MD, PhD)

Duas restrições

Uma das vantagens que a tecnologia trouxe para a medicina de precisão é a ampliação dos diagnósticos. Descobrir uma patologia envolve a identificação de não apenas um tipo de gene, mas de painéis inteiros.

Hoje, a genômica possibilita criar planos de tratamento precisamente adaptados especificamente para cada doença.

Só que ainda temos duas limitações:

1. Custo elevado faz com que a medicina de precisão seja acessível a pouquíssimas pessoas.

2. Grande lapso de tempo para estabelecer planos de tratamento. Hoje, pode-se levar semanas ou até meses para sequenciar o DNA de uma pessoa, e, depois, semanas ou meses para a análise.

É muito complexo analisar uma grande massa de genes ao mesmo tempo. Como são utilizados algoritmos complexos para analisar sequências inteiras de DNA e descobrir a natureza da enfermidade, pode-se levar muito tempo para liberação dos laudos genéticos.

De 8 meses para 24 horas

No IDF 2015, a Intel e a Oregon Health & Science University (OHSU) anunciam o Collaborative Cancer Cloud, uma plataforma de medicina de precisão.

 

A Intel e o Knight Cancer Institute da Universidade de Ciência & Saúde de Oregon (OHSU) esperam transformar completamente a forma como as instituições médicas tratam o câncer ao disponibilizar uma imensa quantidade de dados para análise, através de tecnologias abertas em nuvem.

Eric Dishman, diretor de Pesquisa em Saúde da Intel, passou ele próprio pela experiência de um câncer, 5 anos atrás. No caso dele, a parte do sequenciamento levou apenas um único dia. Porém, levou quatro meses para o processamento e depois mais quatro meses para utilizar os enormes arquivos. Ele brinca que teve sorte em sobreviver aos oito meses entre o sequenciamento e o tratamento.

Normalmente, cerca de 1 TB (terabyte) de dados brutos é processado em um sequenciador de DNA. Estes dados têm que ser combinados com dados de imagens e outros dados clínicos e isso demanda dias ou até semanas.

A Intel e a OHSU querem reduzir esse tempo. Eles desejam tornar possível sequenciar o DNA de uma pessoa, analisá-lo e formular um plano de tratamento preciso dentro de um prazo de 24 horas.

Com o objetivo de atingir essa meta até 2020, eles anunciaram uma plataforma como serviço (platform-as-a-service – Paas) chamada Collaborative Cancer Cloud (algo como Nuvem Colaborativa para o Câncer).

Plataforma aberta em nuvem

Collaborative Cancer Cloud será uma plataforma de análise de precisão que permitirá que instituições médicas compartilhem de forma segura os dados genômicos dos pacientes, como também imagens e dados clínicos.

No anúncio da plataforma, Dishman, da Intel, informou que será disponibilizada uma enorme quantidade de dados provenientes do mundo todo para que sejam analisados de forma distribuída, preservando a privacidade e a segurança dos dados dos pacientes.

“Imagine onde estaremos em 2020. Em vez de 2% de pessoas sendo sequenciadas, serão 10%, 20%, talvez até 100%. Tudo em um dia.” (Dr. Brian Druker)

 

Dr. Brian Druker, da Knight/OHSU, avalia que o desafio acontecerá à medida que mais e mais genomas do câncer e de outras doenças sejam sequenciados. “Estaremos diante de uma enorme quantidade de dados continuamente sendo gerada. Nós precisamos compartilhar esses dados de uma forma que nos permita, em tempo hábil, decifrar o que eles estão tentando nos dizer. Precisamos de dados compartilhados de forma que acelere a nossa capacidade de fazer análises e prescrever tratamentos. Precisamos de um futuro em que isso se torne muito comum.”

O futuro

A Intel e a Knight/OHSU irão iniciar a Collaborative Cancer Cloud com duas novas instituições em 2016. A partir daí, poderão abrir esta network federativa para dezenas de outras instituições – “ou deixá-las que criem elas próprias para acelerar a ciência e as opções de tratamentos de precisão para médicos e seus pacientes”, como diz Dishman, inclusive, o código-fonte ficará aberto.

Cada parceiro irá manter o controle dos dados dos seus pacientes, Dishman explica. Mas a federação vai permitir que a base de conhecimento para o tratamento do câncer seja compartilhada, preservando a segurança e a privacidade.

Aqui no O Futuro das Coisas, já tínhamos falado dessa “democratização da medicina“, com a criação de um banco mundial de saúde. Essa plataforma colaborativa da Intel / OHSU representa um dos passos iniciais ao possibilitar compartilhar com segurança os dados de pesquisas clínicas entre muitas instituições, de uma forma que beneficie médicos, pesquisadores e pacientes.

Viveremos um futuro em que, possivelmente, 100% das pessoas terão seu DNA sequenciado, os diagnósticos de patologias serão ainda mais abrangentes e a formulação dos planos de tratamento serão precisos e divulgados em menos de 24 horas.  Com isso, espera-se que o percentual de 67% de mortes entre os pacientes com câncer, caia significativamente.

O Futuro das Coisas

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