“Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim”. Os versos da música Nada tanto assim, do grupo Kid Abelha, sucesso nos anos 1980, representam muito bem o momento em que estamos vivendo.
Hoje, a capacidade de atrair a atenção da nossa audiência é um grande desafio. Vivemos em um mundo onde a quantidade de conteúdos disponíveis torna a atenção um grande ativo.
Por isso, denominamos o atual momento como era da Economia da Atenção, um tempo em que é muito difícil atrair e manter a atenção das pessoas. Este não é um conceito novo, mas a cada dia se faz ainda mais presente no nosso dia a dia.
O crescimento exponencial de informação disponível para todos provoca cada vez mais escassez da nossa atenção. A cultura digital proporcionou um ambiente onde todos falam para todos, mas nem sempre o outro escuta o que foi falado.
Diante deste cenário, como influenciar nosso público, nossa audiência, nosso cliente ou potencial cliente? Considerando que influenciar representa gerar movimentos no outro, seja ele físico, intelectual ou comportamental.
A premissa de que capital social relevante esteja relacionado ao poder de influenciar é um grande equívoco. O número de seguidores não é, necessariamente, proporcional ao impacto que geramos na nossa audiência. O impacto que geramos está relacionado ao quanto inspiramos o outro. O quanto aquilo que estamos falando é relevante para o outro.
Considerando essa equação precisamos quebrar alguns paradigmas para que consigamos inspirar e consequentemente influenciar o outro. Dentre eles, podemos considerar algumas mudanças importantes:
– Mudar o olhar de consumidor para pessoa – consumidores compram e pessoas vivem. Enxergar as pessoas como vidas e não como números.
– O foco do produto para a experiência – produtos suprem necessidades, experiências suprem desejos
– Da honestidade à confiança – a honestidade é presumida, a confiança é insinuante íntima e deve ser conquistada. Será forte quando construir a conexão. Não é porque você é conhecido que você é confiável. É um trabalho contínuo.
– Da identidade à personalidade – identidade é reconhecimento e personalidade diz respeito ao caráter e ao carisma.
– Obliquidade para presença – a obliquidade é vista e a presença é sentida. Presença é quando alguém nos chama a atenção. Presença demora a conquistar, mas ela é fundamental.
– Da comunicação ao diálogo – comunicar é dizer como está e diálogo é participar.
– Do serviço ao relacionamento – serviço é vender e relacionamento é reconhecimento.
O projeto Voz das Comunidades é um bom exemplo de tudo o que estamos falando. Sobre como inspirar e consequentemente influenciar. Em 2005, época em que a mídia tradicional sequer mencionava o que existe de bom nas favelas, um menino de 11 anos criou um jornal na comunidade do Morro do Adeus, uma das 13 que formam o Conjunto de Favelas do Alemão, para mostrar o que acontecia na sua comunidade.
Para conseguirmos influenciar neste mundo da Economia da Atenção, precisamos nos debruçar sobre nossas experiências de vida e na bagagem adquirida ao longo da nossa jornada. Precisamos ligar os pontos dessa experiência. Cada um de nós é seu próprio veículo. Cada um é dono do seu próprio sistema de comunicação. Resta decidir quem queremos influenciar. E dentro desta linha de pensamento é melhor que ser algo para alguém do que nada para todos.
Além da Economia da Atenção, vivemos em um mundo polarizado. A realidade tem vários pontos de vista e muitas vezes estamos condicionados a apenas um ponto de vista. Vivemos com um choque de vieses onde cada pessoa é um viés. Considerando este cenário, para sermos inovadores e consequentemente influenciarmos nossa audiência ou as pessoas que queremos atingir, precisamos ter pontos diversos, experiências diversas. É preciso ter diversidade no olhar. Considerar que os vieses são sim motivadores para um novo olhar e para um diálogo enriquecedor.
Finalizo este artigo com a parábola de René Descartes, Os Cegos e o Elefante. Ela retrata muito bem este momento dos vieses e da não aceitação da palavra do outro.
Os cegos e o elefante
Um grupo de homens cegos ouviu que um animal estranho, chamado elefante, havia sido trazido para a cidade, mas nenhum deles conhecia sua forma. Então eles disseram: “Podemos conhecê-lo pelo toque, pois disso somos muito capazes.”
Quando eles encontraram o elefante, começaram a tatear e discutir entre si. Cada homem tocou numa parte e, confiante de sua habilidade, discordava dos demais. Eles não percebiam que estavam tateando um animal enorme.
O primeiro homem, cuja mão pousou na tromba, disse:
— Este animal é como uma cobra grossa!
— Este animal é como um leque!
O outro homem, cuja mão estava sobre a perna, riu dos demais e disse:
— O elefante é como um tronco de árvore!
O cego que colocou a mão na barriga do animal falou:
— O elefante é um muro!
Outro que sentiu o rabo do animal disse:
— O elefante é como uma corda!
O último, já irritado, sentia a presa do elefante e afirmava em tom de sabedoria:
— O elefante é como uma lança!
E assim os homens se comportam diante da verdade: tocam apenas uma parte e acreditam conhecer o todo. E por isso continuam tolos.
Descartes faz o seguinte paralelo: “O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída, pois cada um pensa estar tão bem provido dele que não deseja ter mais do que já possui. Isso demonstra que o poder de diferenciar o verdadeiro do falso — aquilo que chamamos bom senso ou razão — é igual em todos os homens. A diversidade de nossas opiniões, contudo, não provém do fato de uns serem melhores do que outros, mas tão somente porque os homens não levam em consideração as mesmas coisas.”