Imagine que você esteja preso em um quarto e que existem duas saídas. A primeira leva a uma sala que tem uma porta com um sol. Caso resolva atravessá-la, esse sol irá queimar você em questão de segundos. A segunda saída leva a uma sala que tem um elevador com um rinoceronte dentro…

Qual saída você escolheria?

A primeira, é claro. Simplesmente você iria esperar até o sol se pôr.

A resposta ao desafio acima é um exemplo de “pensamento lateral“. A solução mais elegante se apresenta quando você aborda o problema de lado, em vez de respondê-lo de frente.

Embora a questão seja apresentada como uma escolha binária – ou uma opção ou outra – quando você desconsidera a suposição de que deve agir imediatamente, a “melhor” resposta se torna óbvia.

Num jogo de xadrez você começa com todas as peças dadas e definidas. Mas, na maioria das situações da vida real, as peças não são dadas, apenas assumimos que elas estejam lá…

“O pensamento lateral não se preocupa em usar as peças existentes, mas com a tentativa de mudar essas mesmas peças”, explica Edward de Bono, psicólogo de Oxford, que cunhou o termo em 1967.

Segundo de Bono, o pensamento lateral envolve descartar o óbvio e deixar para trás os modos tradicionais de pensamento, jogando fora os preconceitos.

Os avanços criativos da humanidade

A história nos mostra que todos os avanços criativos têm uma coisa em comum: eles ocorrem quando as pessoas utilizam o pensamento lateral.

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Crédito da imagem: Inside Intercom

 

Quando observamos as grandes invenções e soluções para os problemas ao longo da história, vimos que os avanços, por definição, só ocorreram quando os pressupostos foram quebrados, tornando o modelo anterior, imediatamente obsoleto.

No campo criativo, isso geralmente acontece quando as pessoas quebram regras que não são realmente regras, mas simplesmente convenções…

Pablo Picasso mudou para sempre a arte, ao romper as “regras” de perspectiva, cor e proporção. A Apple transformou o mundo da tecnologia simplificando radicalmente o design e a forma como ouvimos música e trabalhamos em qualquer lugar.

O pensamento lateral é crucial para os negócios hoje

A questão crucial hoje para a maioria dos empreendedores e empresários não é se seus negócios sofrerão uma disruptura, mas quando, por quem e quão forte isso acontecerá.

A disruptura acontece desde sempre – as primeiras máquinas da Revolução Industrial na Inglaterra do século XVIII foram arrasadoras para os trabalhadores têxteis. Só que agora, o ritmo atual das mudanças tecnológica e sua tendência para causar disrupturas é de tirar o fôlego.

Ao mesmo tempo, isso cria uma imensa oportunidade para as empresas se reinventarem e se moverem lateralmente para outras indústrias. Na China, a Tencent, conhecida como WeChat, um serviço de mensagens instantâneas com mais de 800 milhões de usuários, oferece aos seus usuários a capacidade de gerenciar online seus cuidados de saúde, agendando consultas e verificando exames médicos em mais de 1.200 hospitais. A Tencent poderá ser a próxima grande força disruptiva na indústria de cuidados da saúde da China.

Em outros lugares, também, empresas voltadas para o cliente com conhecimento tecnológico estão invadindo o terreno tradicionalmente ocupado por varejistas, bancos e seguradoras.

A mensagem para as empresas é clara: é preciso pensar lateralmente e desafiar ortodoxias, especialmente quando se trata de definir novas fronteiras.

Para Ian Gonsher e Deb Mills-Scofield, um processo criativo mais aperfeiçoado nos permite reconhecer intuitivamente padrões e usar esses insights para fazer previsões indutivas sobre ideias divergentes, tanto verticalmente dentro de categorias quanto horizontalmente entre categorias. Compreendendo a genealogia da inovação dentro de uma determinada categoria, podemos imaginar o que poderia vir a seguir.

Já sabemos que precisamos romper com o pensamento que se baseia exclusivamente no que sabemos, no que assumimos e no que vivemos, mas o problema é que para a maioria de nós, mesmo se formos “criativos”, nossa configuração padrão é o “pensamento linear”. Viemos de fábrica assim…

Mas esse padrão pode ser reconfigurado.

Se você estiver disposto a passar a pensar mais lateralmente, aqui estão cinco passos propostos por Shane Snow – autor de Smartcuts: How Hackers, Innovators, and Icons Accelerate Success – para treinar essa capacidade:

1- Liste os pressupostos

Quando confrontado com uma pergunta (problema, desafio, etc.), escreva as suposições inerentes à pergunta. No caso do exemplo “do quarto”, a lista poderia incluir o seguinte:

– Você quer sair do quarto

– Você tem que escolher uma das duas opções

– Você tem que fazer algo agora

– Saída 1: você vai morrer, não importa o que aconteça (ou assim pensamos!)

– Saída 2: você vai morrer, não importa o que aconteça

2- Verbalize o que está “convencionado”

Em seguida, pergunte a si mesmo: “Como uma pessoa “comum” abordaria esse problema?”

Procure mapear as soluções óbvias e diretas. Então pergunte a si mesmo: “E se eu não fosse ou não pudesse ir por esse caminho?”

3- Pergunte-se

Pergunte a si mesmo: “E se eu pudesse redefinir a pergunta?”

Reorganize as peças, como sugere de Bono, para formar um novo cenário. No cenário você preso no quarto, em vez de “Qual saída devo passar?”, você pode reformular a pergunta para: “Eu irei passar por uma delas?” Ou “Será que isso realmente me matará?” Ou “Eu preciso mesmo passar por uma delas? ”

4- Comece voltando para trás

Muitas vezes a rota para resolver um problema é revelada quando você começa primeiro com a solução e em seguida volta para trás. Por exemplo, faça a pergunta: “Como eu entraria em um quarto trancado se fosse contíguo com uma sala que tem um sol?”

Em um cenário mais realista, em vez de perguntar “Como podemos gerar de forma renovável 10 gigajoules de eletricidade?”, uma pergunta melhor seria “Como podemos tornar a cidade mais eficiente em termos de energia?”

5- Mude a perspectiva

Por fim, uma das razões pelas quais a inovação acontece frequentemente quando uma empresa (outsider) entra em uma nova indústria, ou quando grupos diferentes se chocam uns com os outros, é porque trazem novas perspectivas

Para começar pensando lateralmente finja que você é alguém tentando resolver um problema. Se você fosse um mágico, ou um cientista, ou um atleta – como você escaparia da sala de fogo? Ou como o rinoceronte responderia a essa pergunta?

Soluções para o futuro

Temos diversos desafios para o futuro: resolver problemas da saúde, do desemprego, as injustiças…

A maioria dos avanços que aconteceram até hoje romperam suposições tão arraigadas que a maioria das pessoas não pensava em questioná-las. E definir novos paradigmas muitas vezes exige mais trabalho do que se pode esperar.

O esforço mental é mais difícil do que o trabalho físico e rotineiro. É a combinação dos dois, trabalho duro e flexibilidade mental, que leva a revoluções.

Em outras palavras: embora diga-se que a distância mais curta entre dois pontos é uma linha reta, se houver obstáculos ao longo dessa linha – seguindo a sabedoria convencional – o caminho mais rápido entre esses dois pontos pode ser dar alguns passos de lado.

Crédito da imagem da capa: Brand Quartely

O Futuro das Coisas

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