Médicos de Xangai, na China, afirmam ter conseguido, “pela primeira vez na história do mundo”, uma possível cura para o diabetes tipo 2 por meio de um tratamento experimental envolvendo transplante de células pancreáticas derivadas de células-tronco. O trabalho foi publicado na revista Cell Discovery.
Diabetes tipo 2 é uma doença crônica que impacta na maneira como o corpo usa a insulina, um hormônio que regula os níveis de açúcar no sangue. O corpo passa a não produzir insulina suficiente ou não utilizá-la de forma eficaz. Os fatores de risco para o seu surgimento são sobrepeso, obesidade, estilo de vida e histórico familiar. Portanto, é essencial controlar esses fatores para prevenir ou, pelo menos, retardar ao máximo o seu aparecimento.
Um recente estudo publicado no The Lancet, realizado pelo consórcio Emerging Risk Factors Collaboration, calculou as taxas de risco (TR) para mortalidade ajustadas por idade e sexo. Os pesquisadores analisaram dados de 96 grupos de pacientes que receberam o diagnóstico de diabetes tipo 2 na idade adulta, envolvendo mais de 1,5 milhão de pessoas em 19 países. Comparando com as taxas de mortalidade nos Estados Unidos, um indivíduo de 50 anos, por exemplo, com diabetes morre em média 14 anos antes quando diagnosticado aos 30 anos, 10 anos antes quando diagnosticado aos 40 anos, ou 6 anos antes quando diagnosticado aos 50 anos do que um indivíduo sem diabetes.
O paciente
Os cientistas chineses não revelaram a identidade do paciente do Hospital Shanghai Changzheng. Sabe-se que ele tem 59 anos, que convivia com a diabetes tipo 2 há 25 anos e que está, desde 2021 – há quase 3 anos –, sem precisar de insulina.
Desde que ele fez um transplante de rim, suas ilhotas pancreáticas (grupo especial de células do pâncreas responsáveis por produzir insulina) perderam a função, passando a depender de injeções de insulina diariamente.
O procedimento
Os médicos usaram células mononucleares do sangue do próprio paciente e reprogramaram em células-tronco. Em seguida, reconstruíram o tecido de pequenos grupos de células especiais no pâncreas (ilhotas pancreáticas) em um ambiente artificial.
O paciente recebeu o enxerto de tecido em julho de 2021. Onze semanas depois, a administração de insulina foi interrompida. A dose da medicação oral para controlar os níveis de açúcar foi reduzida gradativamente, antes de ser totalmente retirada um ano depois.
Exames realizados para acompanhar o paciente mostram que, “a sua função renal está dentro da normalidade”, informa Yin Hao, um dos pesquisadores e diretor do centro de transplante de órgãos do hospital. O paciente já está há quase três anos sem precisar de insulina
Conforme descreve o estudo, o procedimento ajudou a recuperar por completo a função das ilhotas pancreáticas. A expectativa agora dos médicos é que esse tipo de tratamento também possa evitar a progressão das complicações diabéticas.
“Estudos futuros são necessários para estender a aplicação do transplante de ilhotas derivadas de células-tronco a outros subtipos de diabetes e para gerar produtos prontos para uso para curar o diabetes sem a necessidade de imunossupressão”, diz o estudo.
Crédito imagem capa: Massimo loi | Getty Images