Quanto mais cedo se descobre uma doença, mais provável é a sua cura. Até aqui, nenhuma novidade.
Porém, detectar precocemente o câncer de esôfago, é fundamental para o tratamento, já que a taxa de sobrevivência de cinco anos para este tipo de câncer é de apenas 13%.
Essa desoladora estatística motivou alguns pesquisadores a buscar sinais mais precisos de uma doença que precede ao câncer, conhecida como esôfago de Barrett (EB ou síndrome de Barrett).
No esôfago de Barrett ocorre uma mudança anormal nas células como uma reação de defesa a casos crônicos de refluxo gastroesofágico.
Ou seja, ao serem expostas prolongadamente ao suco gástrico, as células que revestem o esôfago transformam-se, ficando parecidas com as do estômago, para resistirem melhor ao ácido.
Dr. Angelo Ferrari Junior, endoscopista do Albert Einstein, explica que quem tem uma alteração no revestimento do esôfago maior do que 2 centímetros de espessura tem risco aumentado para câncer de esôfago.
Aproximadamente 10% dos pacientes com refluxo têm essa alteração, que pode ser considerada uma lesão pré-maligna e pode evoluir para câncer em até 1% dos casos.
Como é feito hoje
Atualmente, o câncer de esôfago e o esôfago de Barrett são diagnosticados com a endoscopia e a biópsia.
No entanto, este é um processo subjetivo, no qual o médico busca anomalias.
Outra coisa é que embora um trecho de esôfago afetado por Barrett possa medir até 10 cm, pode haver muitas variações dentro desse mesmo trecho, com algumas células apresentando mutações e outras que aparentam ser normais e saudáveis.
A endoscopia também é um procedimento invasivo, necessitando que seja feito a sedação intravenosa no paciente. Depois que o sedativo faz efeito, o endoscópio é inserido, por meio do esôfago e estômago. Por conta da sedação, o paciente não sente nenhuma dor e nem se lembra do procedimento.
A nova solução
A professora Rebecca Fitzgerald, da Universidade de Cambridge, e sua equipe desenvolveram o que eles afirmam ser um instrumento mais preciso para o diagnóstico precoce.
Anunciado como “uma cápsula com uma corda” o Cytosponge foi projetado para raspar as células ao longo do esôfago, oferecendo uma amostra muito mais ampla para a detecção de células cancerosas.
O Cytosponge tem o mesmo tamanho de um comprimido de multi-vitamina e embala uma esponja firmemente comprimida.
O paciente engole a cápsula que percorre o caminho para o estômago, onde lá descansa por cerca de cinco minutos.
Nesse tempo o invólucro se dissolve e a esponja expande-se. O médico ou o profissional treinado, usando a corda, puxa a esponja de volta pra cima. Nesta subida, a esponja recolhe as células.
O diferencial dessa solução é que em vez de coletar amostras a partir de uma única seção, a esponja raspa ao longo de todo o comprimento do tubo, coletando até meio milhão de células neste processo.
O futuro
Já foram realizados testes em mais de 2.000 pacientes, embora mais estudos sejam necessários para estabelecer a eficácia da cápsula.
Diagnosticar precocemente o esôfago de Barrett e as mutações das células, pode ajudar os médicos a tratarem da doença mais cedo. Mas, o que o Fitzgerald e a equipe esperam de fato é que essa solução possa substituir endoscopias caras e invasivas de forma segura e mais precisa.
O vídeo abaixo (em Inglês) demonstra a utilização do Cytosponge.
Fonte: Universidade de Cambridge