O setor de eventos foi um dos primeiros a ser completamente paralisado em 2020. Nos últimos dezoito meses, shows e festivais de música, eventos corporativos, conferências de negócios, feiras criativas, casamentos, formaturas, calouradas, tudo teve que ser cancelado, adiado ou adaptado ao formato online.
Para o público leigo, a sensação foi a de que “o show teve que parar”. Porém, o que observamos em nosso dia a dia de pesquisa e produção de conteúdos sobre o futuro dos eventos, é que, na verdade, o setor apenas mudou de palco.
Diversas tendências foram aceleradas, em particular no ambiente digital. O e-commerce já representa 21% das vendas do varejo no Brasil, o ensino à distância (EAD) cresceu 9.8% no último ano e só entre 2020 e 2021, mais de 7.5 milhões de atendimentos foram realizados via telemedicina.
Tradicionalmente (e curiosamente) o setor de eventos sempre foi mais do mesmo. Enquanto várias indústrias sofreram disrupções com a aceleração da tecnologia e democratização do acesso à web, os eventos mudaram pouca coisa desde os tempos das Ágoras da Grécia Antiga, locais onde os gregos iam para se informar sobre as novidades, se educar, se entreter, se relacionar e fazer negócios. Em essência, enquanto fim (objetivo) e não meio (formato), nada muito diferente do que festivais de criatividade e tecnologia criados nos últimos anos como o SXSW ou o Web Summit entregam como experiência aos seus frequentadores.
Daí, veio a pandemia. E uma verdadeira revolução invisível começou na indústria das experiências virtuais e eventos online.
Primeiro vieram as lives caseiras. Depois, as super produções, gravadas em estúdio ou na casa dos artistas, como as lives dos artistas de sertanejo, patrocinadas por grandes marcas de cerveja e dirigidas por equipes de profissionais do setor audiovisual (trivia: você sabia que oito das dez lives mais assistidas do mundo foram Brasileiras?).
Depois surgiram novos modelos de negócios como o Tomorrowland Around The World, um festival nativo digital criado em 3 meses na plataforma Unreal Engine, a mesma tecnologia que o Fortnite também usa para organizar “shows” como os do Travis Scott, Adriana Grande ou BTS. Também, teve quem celebrou aniversário, festa de formatura e casamento no Zoom. E teve quem se despediu de pessoas queridas em velórios em games como Final Fantasy XIV e Animal Crosssing.
Carol e eu acompanhamos de perto as transformações e inovações do setor de eventos nos últimos 18 meses. Em especial, no meio digital. Só faltavam os dados para comprovar a tese que os eventos online vieram mesmo para ficar. Não mais.
Em parceria com o Instituto de pesquisa Mindminers, realizamos o primeiro grande estudo sobre adoção, desafios e perspectivas sobre o futuro dos eventos online no Brasil.
Esse estudo foi realizado entre 30 de julho a 3 de agosto de 2021, com 1.000 participantes distribuídos de acordo com a representatividade de perfil do IBGE, e com um nível de confiança de 95% e margem de erro de 3,1%. Você pode baixar o relatório completo aqui.
Seguem abaixo seis insights dessa pesquisa:
1- Adoção rápida e intensa: 2 em cada 3 brasileiros participaram de algum evento online durante a pandemia. Para metade dessas pessoas, a 1ª experiência participando de um evento online aconteceu durante o último ano. Esse número é particularmente maior entre as classes B e C (52%), comparado à A (48%).
2- Plataformas mais usadas: mais da metade dos brasileiros (55%) teve que criar uma conta em plataformas durante a pandemia, sendo o Zoom a de maior número de novos entrantes: 3 em cada 10 pessoas conectadas. Apesar do do Zoom ser a grande novidade, Youtube (67%), Instagram (41%) e Facebook (32%) continuam sendo as plataformas onde os brasileiros mais participaram de eventos online.
3- Eventos de entretenimento e educacionais em alta: esses foram os segmentos de maior participação, além de vários outros tipos de eventos online como festas de aniversário, casamentos, cultos religiosos e até velórios.
4- Elevada aceitação: apenas 4% das pessoas que participaram de eventos online afirmam não ver vantagem nesse formato. Para a nossa surpresa, três em cada dez pessoas não veem diferença entre participar de um evento online da experiência de participar de um evento presencial, sendo que praticamente metade das pessoas (49%) acredita que a experiência de um evento online pode ser até melhor do que a de um evento presencial.
5- Principais fatores que prejudicaram a experiência: a falta de interações (ausência de encontros e momentos não planejados), problemas técnicos (conexão, acesso) e de ambiente (fadiga de telas e limitações do espaço físico) foram os mais críticos citados pelos entrevistados.
6- Principais vantagens: economia de custos (é mais barato para os participantes), comodidade (possibilidade de assistir gravações), acesso e economia de tempo (não há a necessidade de deslocamento físico) foram alguns dos principais benefícios mencionados pelos entrevistados.
Novas necessidades e comportamentos estão emergindo. Deixa de ser passivo (ex: programas de TV) e é escolhido a cada momento de forma individual e autônoma. O consumo de entretenimento deixa de ser passivo. (Ilustração: Gabriel Hollington)
A adoção de eventos online por parte dos brasileiros, durante a pandemia, foi um experimento coletivo forçado, mas que acelerou tendências, desenvolveu tecnologias e gerou novos comportamentos relacionados à adoção de experiências virtuais, desde a descoberta e a criação de contas em aplicativos de streaming à participação em eventos nunca antes imaginados de serem realizados virtualmente.
Nos últimos 18 meses, presenciamos o que pode ser chamado de efeito “ano de cachorro”. Um cachorro envelhece em média sete anos em um ano (comparado com os humanos). Eventos online e experiências virtuais aceleraram na mesma proporção, sete anos em um.
O principal impeditivo para o crescimento dessa indústria no Brasil continua sendo os problemas relacionados à democratização do acesso à Internet e a capacidade de transmissão e recebimento de dados. Porém, tudo indica que essa é uma indústria que veio para ficar.
O maior festival de cultura pop do mundo, a CCXP de São Paulo, por exemplo, anunciou a 2ª edição de um evento 100% digital em dezembro de 2021. A próxima edição do SXSW será realizada de forma híbrida, com ingressos sendo vendidos para quem vai apenas consumir a experiência online, e outros para quem vai viajar até Austin, Texas, em março de 2022. Grandes eventos corporativos como a XP Expert ou o RD Summit já estabeleceram audiência, calendário e formato no ambiente virtual. E Mark Zuckerberg aposta todas as suas fichas no Metaverso tanto para a renovação do Facebook, quanto para o futuro da Internet.
E isso é só o começo.
A tecnologia 5G acelerará ainda mais essas tendências. Uma nova geração que cresceu assistindo shows no Fortnite, no Minecraft ou Roblox daqui a pouco começa a entrar no mercado de trabalho. Como será o consumo de experiências para eles? Como eles vão se relacionar com os eventos do futuro?
Aguardemos cenas dos próximos capítulos. Num metaverso perto de você.
Se você quer saber como criar experiências de eventos inesquecíveis, preparar-se para um futuro cada vez mais híbrido e aprender como engajar fãs em uma nova jornada de experiências OOO (online-offline-online), vem com a gente!
Claro e sensato. Franklin primeira vez que ouço alguém nesse tom. Estamos juntos!
Para nós, ex-produtores do presencial massivo, vejo que o maior benefício do vivido até aqui foi o de que o foco dos eventos se assentou brilhantemente no CONTEÚDO, já que abandonar ou zapear o “local” por irrelevância leva o tempo/custo de um clique, e que o maior APRENDIZADO ainda está em gerar um híbrido nível Super Bowl: um espetáculo para quem está ao vivo e um show para quem está a frente de uma tela (produzir para o olho humano não é o mesmo que produzir para uma lente.
Oportunidades de crescimento é a maior oferta desta fase, que não nos falte espaço e humildade intelectual.
Um Viva ao presente! Seja ela digital ou presencial. =D
Salve, Luis Fernando, obrigado pelo comentário! Concordo com vc tb sobre o desafio análogo ao Super Bowl! Temos já bons exemplos por aqui tb, a transmissão do Rock in Rio pelo Multishow é sensacional ou mesmo dos jogos do campeonato Brasileiro. São todos modelos híbridos, porém com uma sensível diferença. Hoje o expectador é cada vez mais ativo, conectado a 2 ou 3 telas, e isso gera um novo desafio ao modelo híbrido que é como não apenas transmitir o mesmo evento por 2 ou mais telas diferentes, mas também ter a participação e o envolvimento do público como parte da experiência.
Sigamos construindo e conectando os pontos do futuro juntos! 😉 abração