Nossa civilização já passou e superou choques causados pela tecnologia. Milhares de agricultores tiveram que se transmutar em operários de fábricas nos séculos XIX e XX. No entanto, esse tipo de mudança estrutural não chegou de forma tão rápida quanto o ritmo vertiginoso que estamos experimentando atualmente com a Inteligência Artificial (IA).
Com base em tendências do avanço e da adoção dessa tecnologia, espera-se que dentro de 15 anos, a IA teoricamente possa substituir 40% dos empregos nos Estados Unidos. As disrupturas nos mercados de trabalho serão impactantes.
Mas, seremos levados a lidar com uma questão muito mais profunda: quando as máquinas puderem fazer tudo o que nós podemos fazer hoje, o que significará então ser humano?
Essa é a real ameaça subjacente representada pela automação: colapsos sociais e políticos decorrentes do desemprego generalizado e da desigualdade grotesca. A turbulência nos mercados de trabalho e nas sociedades ocorrerão no contexto de uma crise muito mais pessoal e humana – a de uma crise de identidade; uma reação psicológica do próprio sentido de propósito.
Já estamos vendo evidências disso. A taxa de desemprego já é considera uma “preocupação de saúde pública” depois que descobriu-se que pessoas desempregadas com idade entre 18 e 25 anos têm três vezes mais probabilidade de sofrer depressão do que aquelas que têm um emprego.
Durante séculos, os seres humanos estavam ocupados, passando horas a fio em seus trabalhos, suando a camisa para garantir a sobrevivência e até o supérfluo. A sociedade construiu crenças e valores culturais profundamente arraigados em torno dessa troca, e muitos de nós fomos condicionados a derivar nosso senso de valor próprio a partir do nosso trabalho diário.
Os desafios em relação à IA são complexos, mas não intransponíveis. Como ponto de partida devemos aceitar que a IA nos derrotará em relação a todo tipo de tarefa repetitiva. Como alívio, essas tarefas não são aquelas que nos tornam humanos.
No livro AI Superpowers, um dos especialistas mais respeitados do mundo em IA, Kai-Fu Lee argumenta algo que pode parecer contra intuitivo para alguns: a vantagem humana sobre a IA é criatividade e a “compassion”. Entendamos a “compassion” como algo que vai da empatia à compaixão em relação às outras pessoas.
Para Kai-Fu Lee, a vantagem que temos como humanos sobre a inteligência artificial é a nossa criatividade e a nossa capacidade de amar.
A IA pode substituir trabalhos rotineiros e repetitivos, mas não poderá substituir atividades que precisam de “compassion”. Ele criou uma lista dessas atividades:
Kai-Fu Lee acredita que no mundo pós-IA, precisaremos de muito mais assistentes sociais para nos ajudar a fazer essa transição. Precisaremos de profissionais de saúde cada vez mais compassivos que usem a IA para diagnóstico e tratamento médico, mas que aqueçam o grande volume de dados “frios” com o calor do amor humano.
Precisamos de dez vezes mais professores para ajudar as crianças a prosperar no admirável mundo novo (na verdade, precisamos desses professores agora). E com tanta riqueza criada na era da IA, seremos capazes de construir carreiras a partir de trabalhos humanos e do amor, como estar presentes para cuidar dos nossos idosos e educar em casa nossos filhos.” – Kai-Fu Lee
Kai-Fu Lee considera que em vez de a IA simplesmente substituir nossa força de trabalho, ela irá é aumentar. O gráfico abaixo sugere quatro formas diferentes pelas quais nossos trabalhos se cruzam com a IA:
Primeiro, a IA assumirá trabalhos rotineiros e repetitivos.
Segundo, ferramentas de IA ajudarão cientistas e artistas a ampliar a criatividade.
Terceiro, para os trabalhos não criativos, mas altamente compassivos, a IA ficará responsável pelo pensamento analítico, e os humanos envolverão isso com calor e compaixão.
Finalmente, haverá trabalhos em que os humanos se destacarão sem nenhuma necessidade da IA.
Então o que resulta é: um modelo em que há uma simbiose entre humanos e IA.
Sim, perderemos empregos – mas também ganharemos aqueles em que os humanos têm excelência. Essas novas carreiras celebrarão a criatividade humana e a compaixão, em função de nossos insubstituíveis corações e cérebros. Desta forma, a IA nos libertará do trabalho rotineiro e nos impulsionará a nos tornarmos mais humanos, e não o contrário.” – Kai-Fu Lee
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Para explorar melhor as forças e tendências que estão agindo sobre empregos e carreiras, O Futuro das Coisas criou a e-Formação Futuro das Profissões, a primeira da América Latina.
Fonte: Quartz
A meu ver, o mais complexo nessas grandes mudanças sociais é o período de transição. Quantos e por quanto tempo multidões estarão à margem do processo? Haverá uma brutal desigualdade de renda e exclusão, faz-se vista o que foram as leis trabalhistas desde a revolução industrial até hoje.
Vai ser interessante se decidirmos que a melhor maneira de sobrevivermos será a de que uma inteligência artificial tome conta completamente das nossas vidas e que essa mesma inteligência chegue a conclusão de que para a nossa existência se torne possível, somente se toda humanidade entrasse em um estado de coma, com as nossas funções vitais monitoradas por máquinas e a mente vivendo em realidade virtual. Talvez é isso que esteja acontecendo agora nesse exato momento…
[…] Entendamos a “compassion” como o sentimento que vai da empatia à compaixão em relação às outras pessoas. Com o avanço da Inteligência Artificial, quando as máquinas puderem fazer tudo o que nós podemos fazer hoje, o que significará então ser humano, ser líder e ser colaborador de uma empresa ou de um projeto? (A automação nos forçará a entender que não somos definidos pelo nosso trabalho) […]
[…] Entendamos a “compassion” como o sentimento que vai da empatia à compaixão em relação às outras pessoas. Com o avanço da Inteligência Artificial, quando as máquinas puderem fazer tudo o que nós podemos fazer hoje, o que significará então ser humano, ser líder e ser colaborador de uma empresa ou de um projeto? (A automação nos forçará a entender que não somos definidos pelo nosso trabalho) […]