Não gosto de me intitular professora pois me reconheço como ensinadora – alguém que traduz e transmite informações. Faço isso há 22 anos e garanto a você que meu público tem mudado muito e com rapidez assustadora. De crianças à adultos, todos estão imersos no mesmo fluído interconectado que nos nutre de um volume quase infinito de informações.

Há 10 anos era necessário, quase considerado como única opção, que para aprender, precisávamos de uma instituição formal e renomada. Hoje, com o advento da internet, onde a informação está ao alcance da ponta dos dedos, o professor sobe em um degrau delicado. Qual o motivo?

Imagine dar aula para adultos que já entram sabendo mais que o básico sobre o tema de interesse e munidos de tecnologia suficiente para checar em tempo real as informações passadas. Além de ter o teste da prova real do conteúdo, existe o maior desafio em sala de aula, seja ela analógica ou digital, é manter a audiência INTERESSADA! Caramba, que desafio.

O Instituto Airton Senna, divulgou em 2018 uma pesquisa feita sobre a capacidade de interpretação de informações. O índice assustador de brasileiros que conseguem fazer essa interpretação é de apenas 8%. O que isso quer dizer? Significa que nem tudo o que comunicamos é absorvido e o que é nem sempre tem o significado que deveria.

Hoje, em sala de aula, professor que consegue se comunicar com eficiência (sem ruídos) é portador de uma soft skill muito importante: A BOA COMUNICAÇÃO. Não ache que é simples e fácil, pois cada grupo de alunos comunica-se de forma diferente. Trabalho como coordenadora de soluções de ensino em uma escola de profissões que oferta mais de 20 cursos diferentes. E aí? Ainda não inventaram um aplicativo que converta uma frase de acordo com o humor do receptor. A boa e velha conversa, aliada à capacidade de observar a turma e perceber como interagir ainda é o pulo do gato. 

Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder.” – Yuval Noah Harari

Definitivamente, o professor passa a ocupar uma nova categoria: ENTRETENIMENTO. Estudar precisa mais do que nunca, ser divertido ou no mínimo interessante. Como traduzir um conteúdo de forma contundente e embalado em divertimento?

Vamos pensar nas crianças de 7 anos contemporâneas. Como elas irão se comportar em uma faculdade?

A atenção do ser humano dura em média 8 segundos, tempo menor do que um peixinho dourado. Então, como segurar o aluno durante 4 horas?

Esse assunto gera conexão com professores acima dos 40 anos, pois o conflito de gerações os deixa inseguros.

A novidade é que a geração Y, ou Millennials, já chegaram como professores em sala de aula. Em pouco tempo esse conflito deixará de ser a preocupação pois a oxigenação da classe já terá acontecido e a entrada de outra nova geração trará os novos paradigmas. Como será gerir professores Millennials? Afinal, os alunos de hoje são os professores de amanhã.

Essa nova classe de professores não enxerga seu trabalho como carreira. Em 1987, um professor comum tinha 15 anos de carreira, em 2008 a grande maioria estava no primeiro ano de experiência.

Hoje, mais de 200 mil novos professores começam a cada ano, contrastando com os 65 mil de 1994. Esses são dados de uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia, que examinou uma série de mudanças significativas, incluindo a taxa de professores recém-formados que hoje chega a 65%.

Como a profissão está deixando de ser carreira, os valores estão mudando junto com o novo posicionamento no mercado de trabalho; essa transformação ocorre junto com todos os setores da sociedade; estabilidade não faz parte do plano de vida dos Millennials.

Um professor da geração X, cresceu em uma família que o ensinou a ser autoconfiante, independente e engenhoso. Mas, quando essa geração teve  filhos ofereceu tudo o que lhes foi privado, educando crianças que precisam de constante aprovação e cuidado. Essas crianças irão crescer e formarão a nova geração de professores Millennials. E agora?

Por outro lado, o aluno e o professor da geração Millennial são fortes personagens que usam experiências colaborativas para engajar. E isso será fundamental: perceber o aluno, gerar empatia verdadeira e traduzir o conteúdo de forma a gerar simpatia e senso de pertencimento.

A única constante é a mudança.” – HERÁCLITO

Professor autoritário e monocondutor já não faz sucesso há algum tempo. Não podemos mais lutar contra a introdução da tecnologia em aula. Precisamos pensar nela como um aliado, uma ferramenta poderosa de conexão. Mas não é só isso. Como?

– Não proibindo dispositivos tecnológicos em sala;

– Criando um ambiente acolhedor;

– Gerando empatia, conectando-se com seus alunos, ouvindo-os e pesquisando sobre suas preferências e expectativas;

– Sendo multimodal, ou seja, usando diferentes tipos de recursos;

– Ensino híbrido – abusando dos recursos tecnológicos para se comunicar com a turma;

– Criando senso colaborativo, afinal todos têm muito a dividir – promova isso!

Dos itens citados acima, a grande maioria são ações ligadas à inteligência emocional, não é mesmo? Qual o motivo? SIMPLES.

A tecnologia é REAL e mais cedo ou mais tarde vai chegar até o professor de alguma forma. Não conseguimos fugir desse avanço.

E o lado emocional, onde entra?

Em TUDO. Independente da tecnologia, o mundo é feito de e para pessoas. Saber gerir uma equipe, entender os anseios e preocupações dos alunos, gerar empatia pelos problemas alheios, ser criativo para resolver conflitos, oferecer AFETO; para então oferecer CONTEÚDO, dentro de um mundo tecnológico.

Não existe receita de bolo para ganhar likes dos alunos, mas garanto que estar apaixonado ou apaixonada por ensinar ajuda a apaixonar, dure o tempo que durar.

Crédito da imagem da capa: Catello Gragnaniello

Ana Penso

Ana Penso é designer autoral, professora e especialista em educação moderna com ênfase em ensino digital. Apaixonada por ensinar e fazer conexões, acredita no poder de mudança do ser humano através da cultura, da educação e do design.

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