Cientistas da Universidade de Toronto mapearam quais são os genes que mantém nossas células vivas. Aproximadamente 10% deles são essenciais para a sobrevivência das células. Isso abre o caminho para tratamentos altamente segmentados contra o câncer.
Essa descoberta levou tempo. Há 12 anos, com o sequenciamento do genoma humano, foi criada uma lista de 20.000 genes que compõem nossas células e órgãos. Apesar desta grande conquista, cientistas e pesquisadores ainda não entendiam a função de cada gene, ou como alguns desses genes podem nos fazer mal quando há algo errado.
Para compreender quais são os genes cruciais em doenças como o câncer, a equipe canadense, liderada pelo professor Jason Moffat, percebeu que teria que “desligá-los” um por um.
Jason Moffat, professor do Donnelly Centre da Universidade de Toronto, e também Senior Fellow do Instituto Canadense para Pesquisas Avançadas (CIFAR).
Compreender e manipular a função de cada gene individual, é extremamente difícil. As primeiras tentativas, além de demoradas, foram imprecisas. Somente ao utilizarem a recente tecnologia de edição de gene, conhecida como CRISPR, introduzida em 2012 e extremamente eficaz, eles conseguiram tornar esse processo rápido e preciso.
Ao “desligarem” os milhares de genes, a equipe conseguiu identificar conjuntos deles associados a tipos específicos de câncer, avaliando o que acontece com as células como resultado dessa manobra. Eles obseram o panorama geral, desligando aproximadamente 18.000 genes – o que representa 90% de todo o genoma humano. Ao fazerem isso, isolaram 1.580 genes que são essenciais para manter nossas células vivas.
Prosseguindo os estudos, os pesquisadores desligaram genes associados à cinco tipos diferentes de câncer – cérebro, ovário, retina e duas formas de câncer colorretal – demonstrando que os diferentes tumores dependem de conjuntos específicos e exclusivos de genes. Ou seja, diferentes tipos de câncer têm diferentes mutações, e tendem a contar com diferentes conjuntos de genes para sobreviver.
Estas informações serão usadas para criar novos tratamentos que atacam apenas as células cancerosas, não prejudicando o tecido saudável circundante.
Tratamentos precisos
A equipe de Moffat identificou conjuntos distintos de genes para cada um dos tipos de câncer testados. Cada conjunto suscetível a diferentes medicamentos e eles já mostraram como isso pode funcionar.
No estudo deles, a Metformina, um medicamento amplamente prescrito no tratamento do diabetes, foi usada com sucesso para destruir células cancerígenas cerebrais e a de um tipo de câncer colorretal – no entanto, ineficaz contra outros tipos de câncer que a equipe estudou. Já o cloranfenicol e linezolida foi eficaz contra o segundo tipo de câncer colorretal.
Esses dados ilustram o potencial clínico para tratamentos mais precisos para os diferentes tipos de câncer – e mostram o valor da medicina personalizada. Inclusive a equipe de Moffat desenvolveu uma biblioteca CRISPR que pode ser usada por pesquisadores de todo o mundo para identificar novas estratégias terapêuticas para o tratamento do câncer.
Essa pesquisa é um grande passo para a compreensão global de como nosso genoma funciona, e deixa os cientistas mais perto de alcançar o objetivo principal que é identificar a função específica de cada gene.
“Agora podemos observar o nosso genoma com resolução sem precedentes e com incrível velocidade e precisão. Em pouco tempo, isso levará a um mapa funcional do câncer com medicamentos precisos.”
Prof. Jason Moffat.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Cell.
Fonte: Universidade de Toronto