Existem muitas previsões pessimistas de um futuro completamente dominado por super robôs com a desvalorização do ser humano. No entanto, essa idéia pode estar parcialmente equivocada. Embora a “robotização” possa causar uma comoditização de boa parte das tarefas executadas atualmente pelos humanos, ela traz uma perspectiva otimista para a humanidade, a qual podemos ter um futuro de cooperação entre pessoas e máquinas.

“Este futuro cooperativo entre ambos é o que leva a sociedade ao progresso”. Esta foi uma mensagem transmitida pelo Dr. John Kelly, vice presidente de Centro de Pesquisas da IBM, no Diálogo sobre o Aumento da Capacidade Cognitiva da Inteligência Humana, que aconteceu em San Francisco, no mês passado.

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Organizado pela IBM, o diálogo reuniu líderes do “aprendizado máquina” para discutir como a Inteligência Artificial (IA) pode expandir a inteligência humana, nos ajudando a compreender a infinidade de dados gerados todos os dias.

Kelly enfatiza essa visão otimista de futuro do homem mais a máquina. Segundo ele, a questão não é o avanço da Inteligência Artificial com um propósito de soberania na humanidade, não é nem mesmo sobre a recriação do cérebro humano e seus componentes. Ele acredita que podemos nos inspirar na estrutura cerebral e no poder computacional exponencial para melhorar a nossa compreensão da abundância de dados.

“Eu acredito que a principal questão é: Qual é o preço de não saber?” perguntou Kelly.  

O nosso atual sistema computacional é incapaz de assimilar a abundância de dados que hoje são fragmentados em 80%, e acredita-se que em 2020 esse percentual chegue em 93%. Para se ter uma ideia, pense em descrever uma situação que ocorreu com você para um amigo. Fácil não? Mas, para um computador isso é uma tarefa quase impossível. 

Agora, pense nos dados que são gerados com relação à sua saúde. Durante uma vida inteira uma pessoa gera aproximadamente 1 milhão de gigabytes. Para Kelly o segredo de ser saudável está no meio destes dados:

“Agora multiplique isso pela nossa população atual: os ‘segredos da saúde’ devem estar escondidos entre estes dados”

O que acontece é que nós ainda não temos os meios necessários para analisar e interpretar as mensagens ocultas nestes dados.

Para o Dr. Yoshua Bengio, especialista em redes neurais e “aprendizado profundo” na Universidade de Montreal, isso será um grande desafio, pois o problema se encontra tanto no hardware quanto no software embora os cientistas estejam fazendo progresso em ambos.

Chip Inteligente

Por mais que tenham feito alguns progressos interessantes na capacidade computacional, atualmente os computadores operam com chips que tem uma estrutura criada há 70 anos. Estes chips separam processamento e memória, as duas principais funções executadas por eles dentro de regiões diferentes que necessitam de comunicação constante e com isso diminui sua eficiência. Embora esta estrutura seja suficiente para cálculos e para criar planilhas, ela não atende as expectativas quando confrontada com dados complexos, como a visão e o processamento da linguagem.

O TrueNorth surge como uma possível solução, um chip neuromórfico que possui funções similares ao de um cérebro mamífero. Para Terry Sejnowski, pioneiro em neurociência computacional do Instituto de Salk, quando olhamos para o cérebro percebemos que ele é tanto digital quanto analógico.

True North

TrueNorth, chip da IBM

O cérebro é digital no sentido de processar as atividades elétricas, especialmente as informações que percorrem um longo caminho sem se deteriorar. E analógico na forma que integra as informações recebidas. Essa condição, mesmo que seja imprecisa e barulhenta, permite que o cérebro crie soluções em situações de escassez de energia, algo que não acontece com os atuais chips de computador.

Outra vantagem do nosso cérebro é a sua capacidade de lidar com uma imensa complexidade. Para entender isso, basta ver como os nossos neurônios, a unidade computacional do nosso cérebro, são conectados. Cada neurônio de uma pessoa interage com milhares de outros através das sinapses. Uma mensagem pode atravessar 100 bilhões de neurônios e 100 trilhões de sinapses sem precisar se reprogramar. O cérebro humano tem uma estrutura “computacional” que o torna super eficiente e adaptável e consome menos energia, o que salienta Terry faz com que ele tenha menos necessidade de lançar dados de uma região para a outra.

O chip TrueNorth à primeira vista pode parecer uma tentativa de simular totalmente o cérebro humano, ao realizar conexões de transistores em neurônios porém, para o Dr. Dharmendra Modha, cientista-chefe da IBM, apesar de o chip ser uma saída fundamental dos atuais sistemas, ele não é uma representação precisa do cérebro.

Pode ser tentador pensar que podemos esta transformando os processos biológicos com um chip que assemelha-se a um cérebro. No entanto, o TrueNorth não foi criado para modelar o cérebro mas, para compreender e interpretar uma abundância de dados que o nosso atual sistema ainda não é capaz.

Modha acredita que esses avanços tem um propósito claro de expandir a inteligência humana com a Inteligência Artificial e não tentar replicá-la.

Software de Intuição

Os algoritmos da IA apesar de estarem em uma curva ascendente de crescimento da sua inteligência, ainda enfrentam algumas limitações as quais os cientistas acreditam que inspirando-se no cérebro humano, poderão surgir novas perspectivas. Os grandes desafios são compreender e simular em uma IA a capacidade de abstração e de interpretação do aprendizado instantâneo humano.

Bengio explicou no diálogo realizado pela IBM, acerca dos progressos feito dentro do campo com relação a problemas difíceis como a tradução de linguagem por exemplo.

“Estamos progredindo. Agora estamos integrando o armazenamento de memória dentro das nossas redes para lidar melhor com a tradução de linguagem e outros problemas que eram difíceis alguns anos atrás.”

A próxima grande questão é compreender o sentido da tomada de decisão da máquina isto é, como os algoritmos estão construindo representações para criar suas respostas.

As pessoas precisam e querem saber o porquê de uma máquina optar por uma escolha e não outra, e isso pode ser um condicional para confiarmos na IA. As pessoas querem entender por exemplo, porque um carro autônomo pára de repente no meio da estrada, ou pega uma outra rota. Nós tememos aquilo que não conhecemos e isso pode vir a dificultar uma relação mais afetiva dos humanos com as máquinas.

Na visão de Bengio, as representações criadas pelos algoritmos computacionais atualmente dificultam uma comunicação natural homem-máquina mas, isso pode mudar no futuro.

“Eu acredito que a evolução no processamento de linguagem natural vai nos ajudar com isso, e as máquinas poderão conversar com as pessoas.”

A intuição humana está sendo responsável pela evolução da Inteligência Artificial, e em contrapartida a máquina pode expandir a capacidade cognitiva humana com uma compreensão exata da abundância de dados no nosso dia-a-dia.

Dr. Myron Diftler, cientista de robótica na Nasa, acredita que estamos construindo sistemas sofisticados, autônomos e inteligentes que são extensões e colaboradores deles mesmos.

A IA hoje pode executar atividades menos complexas do que a inteligência humana é capaz. Mas, em poucos anos, como acreditam alguns futuristas, com a curva exponencial a máquina vai transcender a sua atual inteligência e isso pode ser um ponto positivo para humanidade. A Inteligência Artificial poderá nos libertar das nossas obrigações que não trazem prazer e felicidade e que nos impedem de exercermos nosso potencial nas atividades que amamos.

No futuro, poderemos ter uma sinergia entre homem + máquina, para prosperar a humanidade.

Bruno Macedo

Bruno é futurista e designer de Experiências de Futuro na Rito, empresa em que é co-fundador. Também é game-designer e principalmente um curioso nato que estuda desde neurociência à gamificação. Tudo o que faz procura alinhar 3 coisas: Empatia, Subversão e Diversão.

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