A psicologia social enquanto ciência possui diversas pesquisas comprovando que o comportamento humano é resultante da interação do indivíduo com o seu meio. Um exemplo disso é a conhecida fórmula do comportamento proposta pelo psicólogo alemão-americano Kurt Lewin. A fórmula [ C=f(P,A) ] compõe a sua Teoria do Campo, demonstrando que o comportamento (C) é o resultado da função (f) da interação da pessoa (P) – representada pela sua personalidade e características de perfil – com o ambiente (A), o meio onde ela está inserida.

Esse conjunto de fatores constitui uma relação dinâmica e de interdependência, a que Lewin chama campo psicológico, o qual constitui o próprio espaço de vida do indivíduo, definindo a forma como este percebe e interpreta o ambiente externo que o rodeia. Essa teoria explica por que um mesmo fato pode ser interpretado de modo diferente por cada pessoa, que se comporta e reage de acordo com suas próprias percepções.

Em uma explicação evolucionista, a espécie humana não nasce pronta; necessita do outro para sua sobrevivência e para a sua saúde física e emocional. Por isso, ao longo da nossa evolução, desenvolvemos uma pulsão, como diria Freud, ou um instinto social, no conceito de Darwin, que nos compele à necessidade de vivermos em sociedade e a uma necessidade de sermos aceitos.

Então, se somos influenciados pelas nossas convivências, a expressão “diga-me com quem andas que te direi quem és” pode ser estendida também para  “diga-me onde trabalhas que te direi quem és”, pois, na vida adulta, a maioria das pessoas ainda” passa boa parte do seu tempo dentro de uma organização.  

Sendo assim, a cultura organizacional que é constituída dos reais valores e crenças de uma instituição e manifestada em suas normas explícitas e implícitas, formalizadas ou não,  e que culminam em aprovações ou desaprovações, recompensas ou punições – diretas ou veladas – molda o comportamento dos seus colaboradores.

Ter seu comportamento moldado pela instituição onde trabalha significa, em outras palavras, que você tende a desenvolver atitudes e habilidades que são valorizadas pela organização e a atrofiar aquelas que não recebem estímulos ou que, até mesmo, são desaprovadas.

Isso fica bem evidenciado em algumas instituições públicas.  A estabilidade, a igualdade de recompensas para diferentes performances, somadas a um trabalho que, muitas vezes, é desestimulante, transforma pessoas que antes eram surpreendentemente talentosas, proativas e criativas em pessoas que apenas cumprem o mínimo necessário para fazer jus a uma remuneração e garantir a manutenção da sua estabilidade.  É claro que temos muitas exceções neste meio, mas você deve concordar que esses exemplos são fáceis de encontrar em instituições públicas no Brasil.

Isso também acontece em instituições privadas. Temos inúmeros exemplos de empresas que não favorecem a trabalhabilidade e nem preparam seus colaboradores para as mudanças que têm ocorrido em função das novas tecnologias, como por exemplo, a automação cada vez maior das funções. São empresas hierarquizadas, com processos rígidos, decisões centralizadas, lentidão para mudanças, excesso de trabalho operacional, poucos desafios estratégicos e pouca familiaridade com as novas tecnologias.

Recentemente pude evidenciar o contraste em uma empresa cliente com forte cultura de empreendedorismo. Seus colaboradores são diariamente desafiados a fazer gestão para melhorar processos, satisfação dos clientes e resultados. Faz-se isso dando autonomia e estimulando uma postura de “dono do negócio”. Essa empresa vem crescendo em uma velocidade acelerada e isso oportuniza crescimento para quem tiver mérito. Este ano, eles já compraram algumas empresas do seu segmento e é nítida a diferença no nível dos seus colaboradores para os das empresas adquiridas. Nas adquiridas, temos pessoas com os mesmos cargos, com a mesma faixa salarial e com uma diferença brusca no preparo para fazer gestão.  

O mais interessante desta história é que, após alguns meses pertencendo a nova empresa, estes mesmos colaboradores – aqueles que se adequaram à nova cultura – alcançam outro nível de maturidade como gestores. A cultura desta empresa forma bons profissionais.

Nesse contexto de revolução tecnológica, onde a capacidade do ser humano médio de se adaptar foi ultrapassada pela velocidade das mudanças, trabalhar em uma empresa que desafia sua capacidade de adaptação e melhora sua performance profissional pode ser um presente. Caso contrário, talvez seja o momento de avaliar a sua permanência lá.

Quase todas as ocupações serão afetadas pela automação, embora apenas 5% delas possam ser totalmente automatizadas pelas tecnologias atualmente existentes, segundo um novo estudo da McKinsey:

Diversas ocupações têm atividades que podem ser automatizadas: descobrimos que cerca de 30% das atividades em 60% de todas as ocupações podem ser automatizadas. Isso significa que a maioria dos trabalhadores – operários de chão de fábrica aos CEOs – trabalhará junto com as máquinas”

A sociedade precisará lidar com essas transições significativas da força de trabalho, nunca vistas antes. Será fundamental adquirir novas habilidades e adaptar-se à máquinas cada vez mais sofisticadas e auto suficientes. É fundamental estar em uma empresa que busca estimular o desenvolvimento de algumas habilidades cognitivas, como a criatividade e a solução de problemas complexos, como também habilidades socioemocionais.

E mesmo que você não seja empregado de nenhuma empresa, ou porque é  um empreendedor ou um profissional autônomo, é importante compreender que hoje a aprendizagem é contínua, não pode parar, e é você quem deve buscar ser protagonista do seu conhecimento.

Crédito da imagem da capa: Oleksii Khodakivskiy em Unsplash

Marcus Ronsoni

Diretor Presidente da SBDC – Sociedade Brasileira de Desenvolvimento Comportamental, Doutorando em Psicologia Social – Universidade Kennidy / Arg. – Facilitador Líder do Programa de Educação Empreendedora Empretec –(PNUD / UNCTAD / SEBRAE / ABC ).

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