Não há dúvida: tecnologias avançadas irão causar uma disruptura em quase todos os mercados. Profissões inteiras desaparecerão. E então, dentro de 15 a 20 anos, estaremos diante de um mundo sem emprego, em que a maior parte dos trabalhos será realizada por máquinas e pela inteligência artificial (IA)

O boom da tecnologia já está em andamento. E na parte 1 desta matéria, detalhamos o que pensa Vivek Wadhwa. Ele é fellow no Rock Center na Universidade de Stanford, diretor de pesquisa na Universidade de Duke e fellow na Universidade Singularity.

Para Wadhwa, é imperativo que nós compreendamos as mudanças que estão acontecendo e encontremos maneiras de amortecer os impactos. Isso porque estamos falando de avanços tecnológicos que já estão acontecendo e que vão dar frutos logo mais na década de 2020.

Fábricas já usam robôs; Montadoras americanas terão em breve veículos autônomos produzidos em massa; empresas de tecnologia estão desenvolvendo dispositivos médicos que melhoram significativamente a saúde e a longevidade; a energia limpa ilimitada é uma realidade, e as impressoras 3D estão no mercado começando a imprimir nossas necessidades diárias.

O custo de todas essas coisas está caindo e à medida que a produção entra na economia de escala, os preços tendem a despencar, tornando possível suprir grande parte das necessidades básicas – como alimentos, energia e cuidados com a saúde – a um custo insignificante.

Mas, como Peter Diamandis diz: “no caminho para a abundância haverá turbulência.”

Nesta Parte 1, mostramos 3 ondas que levarão os empregos embora.

O desaparecimento de postos de trabalhos: devemos temer?

Vivek_Wadhwa-Vivek Wadhwa

Com os avanços tecnológicos, teremos um novo e grande problema: o desaparecimento de postos de trabalho.

Quase todos os setores e profissões serão afetados, criando um novo conjunto de problemas sociais. Isso vai ocorrer porque a maioria das pessoas não conseguirá se adaptar a uma mudança acontecendo de forma tão rápida.

Para Wadhwa, a elite da tecnologia que lidera esta revolução, quer nos assegurar que não há nada com que se preocupar. Argumentam que serão criados novos postos de trabalho, da mesma forma como aconteceu séculos atrás, quando a economia evoluiu de agrária para industrial, e depois para a economia baseada no conhecimento.

Muitos dos que estão à frente desta nova revolução nos dizem que basta olhar para trás e ver que uma maior produção criou a necessidade de novos tipos de profissões e empregos. E aí, os trabalhadores passaram a ter uma vida muito melhor, porque foram criados novos e melhores trabalhos e os preços dos bens produzidos pelas máquinas caiu sensivelmente.

Sim, é verdade que houve uma grande melhoria da qualidade de vida no século XX, mesmo com duas guerras mundiais. Houve melhoria das condições de saúde e o aumento da população. Saímos de um bilhão de pessoas em 1850 para sete bilhões, 150 anos depois.

Sim, é verdade que estamos tendo uma vida melhor. Mas, o que Wadhwa sente falta nesses argumentos é o prazo em que estas transições irão ocorrer.

Vamos olhar para trás: a revolução industrial se desenrolou ao longo dos séculos.

Porém, as revoluções tecnológicas de hoje estão acontecendo em poucos anos. Basta ver o que aconteceu com o mercado da música, da telefonia e da fotografia. Em poucos anos estas indústrias foram totalmente transformadas.

Certamente serão criados postos de trabalho intelectualmente desafiadores, mas, provavelmente, não seremos capazes de treinar os trabalhadores que perderem seus empregos na mesma velocidade destas mudanças. Eles vão experimentar o desemprego e o desespero que seus antepassados ​experimentaram. Para Wadhwa, são com eles que nós precisamos nos preocupar.

Primeira onda de desemprego: os carros autônomos

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A primeira grande onda de desemprego, segundo Wadhwa, será causada pelos carros autoconduzidos. Eles irão proporcionar um enorme benefício ao eliminar os acidentes de trânsito e os congestionamentos, tornando o tempo mais produtivo, e reduzindo o uso de energia. Mas, irão eliminar os postos de trabalho de milhões de taxistas, de caminhoneiros e de pessoas que trabalham com entrega.

Os veículos totalmente automatizados não estão mais no reino da ficção científica; é possível ver os carros do Google nas ruas de Mountain View, na Califórnia, bem como os carros da Volvo em cidades da Suécia. Todas as grandes montadoras estão trabalhando neste tipo de veículo.

Já existem caminhões autoconduzidos fazendo testes nas estradas e tratores autoconduzidos trabalhando 24 horas sete dias por semana nas fazendas.

Uber contratou dezenas de engenheiros da Carnegie Mellon University para construir seus próprios carros robóticos. Se já existe polêmica aqui no Brasil, com queixas dos taxistas, imagine quando o Uber substituir os seus motoristas humanos – no mais tardar, no final desta década. Como o CEO do aplicativo, Travis Kalanick disse em uma entrevista: “A razão do Uber ser cara é que você está pagando porque tem outra pessoa no carro dirigindo para você. Quando não houver outra pessoa, o custo de tomar um Uber em qualquer lugar passa a ser mais acessível. Mesmo em uma viagem.”

Segunda onda de desemprego: a manufatura

Yumi 2O robô Yumi da ABB, sendo apresentado à chanceler alemã Angela Merkel

 

A manufatura será o próximo setor a ser transformado, alerta Wadhwa. Os robôs já são capazes de realizar cirurgias, tirar leite de vacas, fazer reconhecimento militar, afora embalar mercadorias, como faz a Amazon e outras empresas de ponta.

Além do mais, os robôs não se juntam em sindicatos (ainda) e trabalham sem ligar para o relógio e sem se queixar.

Até pouco tempo, eles não eram hábeis o suficiente para fazer certos trabalhos que os seres humanos fazem bem, como instalar placas de circuito. A última geração de robôs industriais da ABB, na Suíça, e da Rethink Robotics, em Boston, pode fazer isso. O robô da ABB, o Yumi, pode até mesmo enfiar uma linha em uma agulha, e custa apenas US$ 40.000.

A China, temendo o desaparecimento da sua indústria, passou a criar fábricas com robôs totalmente automatizados, na esperança de que, tornando-se mais competitiva nos preços de seus produtos, poder continuar a ser a líder mundial em fabricação.

A vantagem chinesa só se manterá se as cadeias de abastecimento que estão na China, bem como o transporte de matérias-primas e de produtos acabados, ao longo dos oceanos, permanecer rentável. Isto porque os robôs no resto do mundo são tão produtivos quanto os deles.

De qualquer maneira, alguns postos de trabalho serão criados uma vez que novas fábricas serão construídas, mas de forma geral, os trabalhos na manufatura deverão ter uma substancial redução.

Terceira onda de desemprego: análises de informações

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Com os avanços na inteligência artificial, qualquer trabalho que exija a análise de grandes quantidades de informações pode ser feito melhor e mais rápido por computadores do que por humanos.

Este tipo de trabalho, feito pelos computadores, já está afetando trabalhos que envolvem conhecimento em diversos setores, como a aviação, e devem ter um avanço substancial nos próximos anos, expandindo-se para outras áreas, prevê Wadhwa.

Isso inclui os trabalhos de médicos, de advogados, de contadores e de corretores da bolsa.

Homens e mulheres ainda serão necessários para interagir com aqueles que preferem o contato humano, mas o trabalho pesado vai desaparecer, porque será feito pelas máquinas, liberando tempo para as pessoas.

O futuro numa visão otimista

Esse futuro sem emprego certamente criará problemas sociais – mas pode ser uma oportunidade para a humanidade aprimorar-se.

Além disso, por que precisamos trabalhar 40, 50 ou 60 horas por semana? Assim como na agricultura, onde os trabalhos pesados foram transferidos para as máquinas, a vida pode ser bem melhor sem o trabalho exaustivo no escritório. Se pudermos trabalhar 10 ou 15 horas por semana, em qualquer lugar que quisermos, teremos tempo para o lazer, para o trabalho social, ou para obter mais conhecimento.

Com mais tempo livre, o turismo e a indústria de lazer provavelmente entrarão em expansão, gerando novos postos de trabalho.

Existem muitas coisas para nos animarmos e também muitas coisas a temer. Wadhwa é otimista e diz que se conseguirmos desenvolver tecnologias que resolvam doenças, a fome, a energia e a educação, poderemos e certamente teremos capacidade para desenvolvermos soluções para os nossos problemas sociais.

Mas, ele diz que precisamos começar pela compreensão de onde estamos e ter a noção de onde chegaremos. Precisamos compreender os impactos das mudanças e nos anteciparmos na solução do problema.

Depois da turbulência, nós entraremos em uma era de abundância em que já não teremos mais que trabalhar para ter as nossas necessidades básicas satisfeitas. E iremos ganhar a liberdade de exercer trabalhos criativos e fazermos coisas que realmente gostamos. E é disso que iremos falar na Parte 2 deste artigo.

Até lá!

Fonte: SingularityHUB

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