A conversa abaixo faz parte do projeto “Closer to Truth”, programa de TV organizado por Robert Lawrence Kuhn que busca exatamente aproximar nossa visão daquilo que pode ser a realidade.

É incrível como em menos de quatro minutos, Ray Kurzweil – um dos futuristas mais visionários da atualidade – joga algumas bombas conceituais para nos divertirmos por alguns dias.

Vivemos em uma simulação? O universo é feito de matéria/coisas ou informação? O que somos de verdade? Matéria ou informação? O nosso universo existe ou é apenas uma invenção de um ser evoluído de outro planeta?

Kurzweil, como sempre, coloca uma abordagem totalmente única nessas questões e conta nesse vídeo porque se define como “patternist”, alguém que acredita que os padrões de informação são a verdadeira representação do universo.

Sua fala nesse vídeo, de alguma forma, reforça seu ponto de vista.

Ao ler a transcrição abaixo ou ver o vídeo, nada de “físico” vai ter acontecido na sua vida. Mas, o poder da informação pode ser forte o suficiente para causar mudanças na sua forma de ver o mundo.

E repare que Kuhn, nesse vídeo, tem apenas uma pequena participação: ele faz a pergunta. Os três minutos de resposta de Kurzweil são praticamente um pequeno (e profundo) artigo.

Aproveite.

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Vídeo transcrito e traduzido

[Kuhn] – Ray, alguns cientistas muito inteligentes já começaram a especular que talvez nós estejamos vivendo em uma simulação. Existe alguma coerência nisso?

[Kurzweil] – Bem, primeiro de tudo, não está claro se há muita diferença entre simulação e realidade. Às vezes falo que seremos capazes de simular a inteligência humana e, alguns filósofos aparecem e dizem: “Isso é uma simulação e não a ‘coisa’ real”.

Se você simular algo de maneira tão precisa quanto a original, eu não acho que na verdade exista diferença. Este universo poderia ter sido criado por alguma superinteligência de outro universo.

Então, talvez o nosso universo seja um experimento científico de uma aluna superinteligente do ensino médio, e não seja o universo. E talvez ela não vá conseguir uma boa nota, dada a forma como as coisas estão indo. Mas ainda é um universo real e segue algumas leis, pelo que nós entendemos.

E talvez aquela estudante de ensino médio tenha que intervir às vezes. Se nós realmente fôssemos capazes de contemplar a inteligência dessa aluna do ensino médio, ela poderia parecer Deus, sob qualquer perspectiva que os textos religiosos abordam.

Isso é um cenário plausível, porque vamos chegar a um ponto onde nossa civilização será sublimemente inteligente e nós poderemos realmente ser capazes de criar outro universo que têm o comando de interações físicas.

Outra possibilidade é que o nosso universo seja executado em um computador.

Isso porque as pessoas têm examinado as leis físicas como um conjunto de processos computacionais e é, de fato bastante plausível dizer que nosso universo seja um computador.

Temos essa ideia, pelo menos nas filosofias ocidentais, de que o que realmente seja verdade no universo é que ele é fundamentalmente um monte de “coisas” [stuff]. Um monte de partículas, de energia, de “coisas” físicas reais. E essas “coisas” talvez possam representar informação, mas basicamente, é uma “coisa”.

Mas, talvez fundamentalmente não sejam “coisas”, mas sejam fundamentalmente informações. O que chamamos de “coisas”, como partículas, elétrons e prótons talvez sejam apenas manifestações de estruturas de informação. O aspecto mais fundamental do universo é informação.

Toda essa informação está em constante mutação, sendo manipulada, ela está rodando em algum substrato computacional o que significaria que o universo é um computador. Se eu pensar sobre o que sou… eu realmente sou uma estrutura de informação, eu sou um padrão de informação.

Se você disser: “Não, Ray. Você é esses átomos, moléculas que fazem quem você é”. Bem, isso não é verdade. Nós sabemos que as células, dependendo de que célula seja, se transformam em cinco dias, duas semanas. Os neurônios persistem como células, mas as partes dos neurônios mudam muito rapidamente.  Eu sou uma “coisa” completamente diferente – partículas, moléculas – do que eu era há pouco tempo atrás.

Mas eu não sou uma informação completamente diferente. Sim, eu mudei um pouco, mas, há uma continuidade.  A maioria dos padrões são os mesmos. Então, fundamentalmente o que me faz ser Ray Kurzweil, é a informação. É um padrão de informações.

Então, eu sou um “patternist” que considera que os padrões – o que significa informação – é fundamentalmente a realidade.

Serviço: Veja aqui outros vídeos da Série Closer to Truth.

Conrado Schlochauer

Conrado Schlochauer tem doutorado em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento Humano na USP e trabalha com inovação em Educação Corporativa há mais de 20 anos. Cofundador da Teya

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