Você tem planos para daqui a seis meses? É daquelas pessoas que traça uma rota e desenha todos os passos do caminho? Seu sonho é fazer carreira naquela empresa e seguir lá pro resto da vida? Seu negócio não tem nada a ver com tecnologia,  a revolução digital não é uma ameaça pra você?

Convido você a olhar em volta e refletir. Em seis meses, possivelmente, o contexto em que você vive agora vai estar diferente e você terá que repensar seus planos. Provavelmente, terá que traçar uma nova rota.

Mas, até aí está tudo bem, desde que sua carreira promissora, naquela empresa, esteja garantida?

Bem, sinto informar que, em alguns anos, muito provavelmente, a atividade que você faz hoje terá deixado de existir. E saiba que o seu negócio já está ameaçado pelas novas tecnologias. Se você já percebeu, que bom. Se não, é bem possível que ele esteja com os dias contados.

Esse papo de que o mundo está mudando, de que estamos vivendo uma transformação digital nunca antes experimentada pode até já soar clichê de tanto que a gente escuta, mas a verdade é que é isso mesmo. E o pior (ou melhor) de tudo: a gente ainda não viu nada.

Se o fato de que o seu emprego de hoje vai deixar de existir preocupa, talvez mais assustador seja saber que o seu futuro emprego nem exista ainda ou que há grandes chances de você se tornar freelancer – o estudo da Accenture Technology Vision 2016 prevê que, nos Estados Unidos, 43% da força de trabalho será composta por freelancers até 2020. No Brasil, estamos ainda um pouco atrás, mas estamos no mesmo caminho – e não tem mais volta.

Todas as profissões que a gente conhece estão mudando. E esse modelo de carreira linear já não vai fazer parte da realidade da geração de milleniuns que hoje está na universidade – se é que ainda faz parte da realidade dos executivos de hoje em dia.

Um robô vai fazer o trabalho que você faz hoje, e não estou falando de apertar botão de máquina. Eles estão aprendendo a pensar e agir como você, só que mais rápido e até melhor. Robôs já escrevem melhor do que jornalistas, diagnosticam com mais precisão do que os médicos e realizam com excelência funções típicas de um advogado.

A discussão sobre robôs ocupando o lugar dos seres humanos nas atividades profissionais não é de hoje. Mas, pode ser que  talvez você pensasse que estava mais para filme de ficção científica do que para uma realidade que ameaça o seu emprego. O fato é que eles irão substituir muitas das carreiras que conhecemos.

Os jovens que estão hoje na faculdade provavelmente irão trabalhar em atividades que não existem ainda. E aí vem a pergunta: por que então os jovens estão estudando em universidades tradicionais para aprender a fazer alguma atividade a qual:

1) se eles nem sabem se vai ser útil para a atividade que nem sabem ainda qual será?

2) se qualquer área de conhecimento, essencialmente técnica, será potencialmente melhor desempenhada por um robô?

Entra aqui em pauta outra boa discussão: nosso sistema educacional. Tão linear. Tão igual há mais de 150 anos. Tão incoerente com o mundo e o tempo de hoje.

Por acaso alguns dos CEOs que você mais admira sequer têm curso superior?

E isso soa até muito normal para você? No mínimo, tem algo diferente rolando.

Já vemos e ouvimos bastante gente questionando o modelo de educação atual. Escolas e modelos disruptivos começam a surgir, mas ainda é um movimento muito pequeno se considerarmos a importância do assunto.

No Vale do Silício, já existe uma universidade sem professor, sem livros e onde ninguém paga nada. É a 42, fundada em 2013, em Paris, por Xavier Niel, um empresário de tecnologia.  O modelo funciona baseado na colaboração e na experiência prática. Os alunos vivenciam o que aprendem e trabalham com total autonomia na solução de problemas reais. E eles mesmos ensinam, desenvolvem e avaliam os outros colegas. E sim, eles vão evoluindo ao longo dos projetos, e se formam no final, depois de uns cinco anos, como qualquer curso superior tradicional que você conhece por aí. Muitos dos alunos que se formaram lá, hoje, estão em grandes empresas como a Amazon e a Tesla, ou empreenderam suas próprias empresas.

A Singularity University, outro exemplo, foi fundada com o objetivo de criar um tipo diferente de universidade, cujo currículo acompanhasse a velocidade das mudanças que estamos vendo no mundo. Lá os alunos são estimulados,  por meio do que aprendem sobre tecnologias exponenciais, a impactar positivamente a vida de bilhões de pessoas.

Já a Univeridade Minerva, criada por uma startup californiana, se propõe a reinventar o ensino superior apostando que a experiência é um dos elementos essenciais no processo de aprendizado – e vale mais do que a sala de aula. Nesse modelo, os alunos vivem uma rotação internacional durante o curso e mudam de país seis vezes ao longo de três anos. Eles assistem às aulas através de uma plataforma digital e interativa e aplicam o que aprendem em projetos reais de organizações nos lugares por onde passam.

A educação também está mais democrática. Hoje em dia qualquer pessoa com acesso à internet pode assistir às aulas de professores de Harvard, Yale, do MIT ou de muitas das mais renomadas universidades do mundo. A Khan Academy disponibiliza gratuitamente na internet mais de 3.200 aulas sobre diversas disciplinas e já tem mais de 40 milhões de “alunos”.

Tá bom: olhamos para carreira e educação e já entendemos que o futuro não é mais como era antigamente. E o que você já deve ter percebido é que o impacto assola também as organizações e os modelos de negócio como conhecemos hoje – na grande maioria, lineares.

O estudo “The Current State of Digital Readiness in Retail”, desenvolvido pela Cisco concluiu que apenas 67% das empresas no Brasil estão investindo em novas tecnologias ou serviços para acompanhar as transformações digitais. Outras 30% estão passivas esperando as transformações ocorrerem, para então começar a pensar no assunto. Talvez seja tarde demais. (Clique aqui para ver o conteúdo do estudo na íntegra).

De repente vem um cara e quebra o seu negócio. Não porque você não foi bom em eficiência e produtividade. Não porque você não conseguiu gerir bem os processos. Você fez seu trabalho com muita qualidade, colocando em prática os melhores conceitos, teorias e aprendizados que acumulou ao longo da vida. Ouviu os melhores consultores, leu os melhores livros. No entanto, suas margens estão caindo, seus resultados estão cada vez menores até que, de repente, se tornou insustentável continuar. Sabe o que aconteceu? Você não se adaptou – na velocidade que precisava. Ou você achou que essa coisa de tecnologias exponenciais não era uma ameaça ao seu negócio, afinal, seu negócio não tem nada a ver com tecnologia…

Pare. Repense. Ainda dá tempo. Aceite o fato de que muitas coisas que você acredita e aprendeu ao longo da vida estão se tornando obsoletas. Aquela receita de sucesso baseada em economias de escala, estruturas gigantescas verticalizadas e globalizadas cujo resultado tinha relação direta com o volume de ativos que você possuia deu lugar a um modelo em que ativos físicos não significam tanto e o maior ativo de valor que você pode ter agora é a informação.

Em alguns anos, toda e qualquer coisa que existe no mundo será transformada em dados e habilitada para informação – é a Internet das Coisas. Em 2030, o mundo terá um trilhão de aparelhos conectados à internet – já imaginou o volume de dados sendo gerados a todo momento? Nós veremos um mundo onde tudo, absolutamente tudo, estará conectado. Objetos, carros, casas, cidades, pessoas. Tudo conectado o tempo todo.

Qualquer pessoa será capaz de acessar qualquer informação, sobre qualquer coisa, a qualquer momento. Se você acha que o Google já presta esse serviço pra você, você ainda não viu nada.

Pense: o Facebook tem 2 bilhões de usuários trocando mensagens diariamente, gerando dados que digitalizam a expressão dos nossos sentimentos, experiências e relacionamentos. Todo dia, 50 milhões de tweets passam pelo Twitter. O Google recebe 31 bilhões de buscas por mês.

É um volume de dados nunca antes visto na história da humanidade. E isso só cresce. Exponencialmente.

E qual o ativo essencial dessas empresas?

Informação. Acredita-se que nos próximos anos, a maioria dos grandes empreendimentos construirá seus negócios a partir de novas fontes de informação ou pela conversão de ambientes antes analógicos em informação. (Leia mais sobre isso no livro Organizações Exponenciais – aliás, leitura obrigatória para quem quer entender melhor toda essa revolução que está aí, sem pedir licença pra entrar).

Esses dados abastecem um sistema de inteligência artificial que alimenta o robô que vai ocupar o seu emprego.

E as mudanças que impactam o mundo hoje não param por aí. O dinheiro vai deixar de existir do jeito que a gente conhece. A expectativa de vida só cresce – pesquisadores acreditam que já existem pessoas que viverão até os 150 anos. A cura de doenças como o câncer estará ao nosso alcance daqui a pouco. Impressão 3D nem chegou na sua casa e já se fala em automontagem e impressão 4D.

A tecnologia que experimentamos hoje muda nossa vida e cria novos padrões de comportamento. A sociedade inteira é alvo e protagonista de toda essa disrupção.

E se o valor de qualquer negócio estará na informação produzida pelo volume avassalador de dados que estamos gerando, talvez o seu valor profissional esteja justamente naquilo que não pode ser transformado em dados. Capacidades humanas como criatividade, empatia e sensibilidade terão ainda mais valor, e serão os grandes diferenciais dos profissionais de sucesso do futuro.

Mudanças sempre existiram. O mundo muda desde sempre. Se a diferença agora é a velocidade, incomparável ao que vimos até então, talvez a melhor forma de viver esse novo momento seja estar aberto à aprender (e desaprender e reaprender, como disse Alvin Toffler) e se adaptar, ou a ruptura será de fato abaladora.

O ser humano tende a resistir às mudanças. É da nossa natureza, especialmente quando nos sentimos ameaçados e não conseguimos compreender a dimensão ou o impacto da mudança na nossa vida – e é exatamente isso agora: nada mais está dominado. Ninguém sabe ao certo onde tudo isso vai chegar, só se tem certeza de que vai ser muito mais intenso do que já é hoje.

Mas, a decisão de mudança é sempre uma decisão individual. Portanto, a escolha sobre como passamos por este novo momento também é nossa.

Resista à tentação simplista de buscar uma resposta linear que você já conhece. Esteja aberto. Liberte-se de crenças antigas. Experimente-se em outros papéis. Explore o novo e deixe fluir.

Lembre-se: o futuro não é mais como era antigamente.

Clarisse Pantoja

Jornalista e designer, também formada em Relações Internacionais e Gestão Empresarial. Atua no mercado corporativo com gestão da mudança, cultura, comunicação e clima organizacional. Curiosa por natureza e apaixonada por estudar e aprender sobre tendências e movimentos que movem o mundo, e influenciar pessoas e organizações em processos de transformação para o futuro.

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