Desmonetização, democratização, digitalização, desintermediação e automação. A partir de agora o mundo nunca mais será o mesmo. A forma como trabalhamos nunca mais será a mesma. As habilidades que vamos precisar serão extremamente diferentes de hoje.

O trabalho vai se tornar ainda mais instável. No futuro, não irão existir “empregos” como os conhecemos. Muitos deixarão de existir por causa da automação – desde dirigir caminhões até a realização de cirurgias.

Já há algum tempo, muitos trabalhos passaram a ser realizados por qualquer pessoa que tenha uma conexão à Internet. Na era da globalização 3.0, como Thomas Friedman a rotula, a Internet permitiu que cada nação, cada comunidade e cada indivíduo competissem entre si como nunca antes. A terceirização, o outsourcing, o offshoring e o aumento do uso da tecnologia, criam desafios como nunca antes.

Um estudo da Oxford Research mostra que “a tecnologia da informação reduz a necessidade de certos empregos mais rapidamente do que cria novos”. Prevê-se que mais de 43% dos empregos que existem hoje desaparecerão para sempre nos próximos 20 anos.

Empregadores começam a se perguntar: por que devo empregar uma pessoa, quando isso envolve alugar um escritório para colocá-la, investir em treinamentos, pagar impostos e benefícios, se posso fragmentar tarefas e contratar especialistas?

Em muitas indústrias – farmacêutica e contabilidade, por exemplo – isso já está acontecendo, com funcionários sendo substituídos por contratos. Para milhões de pessoas em todo o mundo, isso é o que o futuro reserva: cada pessoa sendo uma corporação, uma gota que alguns chamam de “nuvem humana”.

Tal futuro pode chocar muitas pessoas. E terá, sem dúvida, conseqüências preocupantes. O desemprego aumentará. Os salários podem cair. Um novo modelo de bem-estar terá de surgir, para garantir que aqueles que perderam o trabalho possam sobreviver (renda básica universal e “dividendos digitais” estão entre as ideias defendidas). Para profissionais não qualificados e não empreendedores, a fragmentação do trabalho é especialmente perigosa.

Por outro lado, a nova configuração de trabalho pode ter o seu lado bom, como trabalhar em casa por exemplo. As pessoas não gostam de ter patrões e a perspectiva de não ter um é motivadora, segundo pesquisas. Ter a liberdade de trabalhar onde você quer, em seu próprio tempo, são coisas que as pessoas cada vez mais dão valor.

Empregados que antes “entregavam seus corpos e mentes” por 40 horas semanais ou mais, em troca de segurança, salário e aposentadoria, começam a questionar o sentido desse antigo modelo.

Há ainda uma nova faceta dessa paisagem de mudança do trabalho: o reavivamento de trabalhos artesanais que já foram pedras angulares da Era industrial. O sociólogo Richard Ocejo observa que um número crescente de jovens que receberam educação, está renunciando a carreiras bem remuneradas para seguirem “novos” empregos, como barbearia, cervejaria, bartering, marcenaria, estofaria, etc. Tradicionalmente, profissões com baixo status e mal remuneradas, agora estão se tornando “cool”, com serviços consideravelmente mais sofisticados e mais caros. Como as universidades se enquadrariam nessa nova faceta? (Crédito: Shutterstock)

Ilana Gershon em seu livro “Down and Out in the New Economy” argumenta que a natureza mutável do trabalho levou a uma mudança fundamental na forma como é interpretada a relação entre empregados e empregadores. Considerando que no passado, essa relação era vista como sendo um contrato de propriedade – um trabalhador que alugava uma parte de si para uma empresa – hoje essa relação se tornou mais solta e menos formal, mais parecida com uma “parceria”. Isso ajuda a explicar a necessidade de os candidatos a um emprego apresentarem-se não como pessoas com habilidades técnicas, mas como “marcas” apaixonadas por seus “valores”.

À medida que a natureza do trabalho muda, um questionamento mais profundo vem à tona: como podemos fazer com que nossas vidas profissionais sejam mais significativas?

Há dois fios condutores que permitem colocar toda a nova economia no mesmo movimento: a inovação disruptiva e o trabalho com propósito. A disrupção pode implicar em ganhar menos dinheiro, mas fazer melhor e ser mais feliz.

A expansão da oportunidade individual, a incessante energia da inovação disruptiva e o poder transformador da tecnologia da informação e das comunicações, são três coisas que compõem essa nova economia.

Aqui considero a nova economia num contexto de ser essencialmente sinônimo de “baseada em conhecimento”. A pessoa geradora do valor de troca sai dos bens materiais para o conhecimento e ideias. Uma pessoa com uma boa ideia é o combustível que alimenta a nova economia. No entanto, ideias são de graça, o que vale é a execução. Na nova economia fazer é mais importante do que criar.

A nova economia desafia a sabedoria convencional da Era Industrial e desencadeia formas completamente diferentes de trabalhar, de criar coisas, de consumir, de lançar produtos e de atender os clientes.

As Universidades e o Novo Papel

Mesmo que a natureza do trabalho esteja em constante mudança, a maioria das faculdades e universidades não está preparada para dar aos jovens as habilidades que eles precisam para entrar no mercado de trabalho de hoje e do futuro. Na realidade, como instituições privadas exigem um elevado investimento, muitos jovens estão avaliando se compensa o esforço e o custo.

No entanto, a maioria dos novos trabalhos exigirá conhecimento. Para a universidade ou faculdade, a grande questão é o que ensinar ou, mais precisamente, o que os alunos precisam saber? Quais são essas “novas habilidades” que serão tão exigidas?

John M. Eger acredita que precisamos oferecer aos universitários uma nova alternativa interdisciplinar e multidisciplinar:

Esquecemos o brainstorm. Esquecemos como assumir riscos. Esquecemos como pensar em voz alta, sem constrangimento. Não somos empáticos, somos transacionais sempre que tentamos resolver qualquer problema. Na verdade, muitas vezes vem-se com uma solução antes de se ter realmente pensado no problema. Design learning e design thinking ajudam as pessoas a pensar fora da caixa, pensar de forma ampla.”

Eger exemplifica no seu artigo ao Huffpost que na Design Factory na Aalto University, na Finlândia, eles juntam estudantes de engenharia, arte e negócios para projetar, construir e comercializar uma inovação específica. Este modelo, inspirado pela D School de Stanford, expandiu-se para outros nove países como Austrália e Coréia do Sul.

Algumas universidades vão ainda mais longe.

Projetos baseados em aprendizagem implicam identificar e trabalhar em problemas reais. No mês passado, a The Economist destacou as novas abordagens de aprendizagem onde “os alunos trabalham em problemas reais e difíceis em enormes espaços abertos:

Nos últimos 15 anos, dezenas dessas instituições foram criadas, do Chile à China. Muitas delas rejeitam as formas usuais de aprendizagem: palestras, livros didáticos, provas e professores. Em vez disso, os alunos trabalham em equipe em cima de projetos, tentando resolver problemas sem respostas claras.”

Alguns destes experimentos estão focados em reunir todas as disciplinas, particularmente arte, ciência e negócios. Claramente, o que é importante é que os jovens aprendam a aprender; Pensem de forma diferente sobre o que aprendem e, se possível, durante o processo, descubram seus interesses e aspirações.

Não faz sentido manter os “silos” de conhecimento.

Talvez o que o Silvio Meira disse em ter uma política combinada de atração de talentos de fora e de formação de mais talentos aqui, possa derrubar esses silos e articular esse processo de criação de uma rede de competências humanas de alta qualidade, criando essa multidisciplinaridade. Mas, como ele diz:

A academia pública não tem qualquer incentivo para formar mais e melhores profissionais; vai ser fundamental articular esse processo de criação de uma rede de competências humanas de alta qualidade com as escolas privadas, ao mesmo tempo em que se cria oportunidades que justificam o investimento nessa formação, por parte das escolas e dos aprendizes.”

E aqui vale a pena citar os fab labs, laboratórios de fabricação digital com total sintonia com a nova economia. Esses labs já estão contribuindo para criar um novo ambiente de aprendizagem e formação, de pesquisa e de cultura da prototipagem. São lugares voltados para universitários, makers e curiosos para que concretizem projetos e gerem negócios inovadores e conectados com o futuro.

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Nesta próxima quinta-feira, estarei em um talk na Joy Fab Lab para conversar e trocar ideias com makers, universitários e empreendedores sobre a nova economia e as transformações dos negócios. Esse evento é feito em parceria com O Futuro das Coisas.

Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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