Para imaginar um futuro, temos de questionar o passado; para questionar o passado, temos de compreender o presente. Observe o mundo ao seu redor: o surgimento exponencial de novas tecnologias e os debates que hoje influenciam as tendências globais. Atreva-se a questionar o que está estabelecido e, inspirados por isso, mudemos o foco para saúde e nutrição, pois este é um campo em profunda crise e ambos formam um pilar fundamental de grandes transformações que estão por vir.

Comida, a mais básica necessidade na hierarquia de necessidades de Maslow foi manipulada para ir muito além do seu objetivo nutricional e vital, pois hoje representa um lucrativo mercado global. O longo reinado do consumismo acrítico gerou empresas e instituições cujos produtos alimentícios até permitem o prazer sensorial ou satisfações imediatas, mas ao preço de uma densidade nutricional mínima.

Somos peças dentro de um xadrez psicológico e culturalmente condicionado que perpetua uma ideologia invisível, voltada ao consumo de carne de certos animais, uma ideologia denominada carnismo pela psicóloga de Harvard, Dr. Melanie Joy. Semanalmente, 1,2 bilhões de animais de cativeiro são abatidos no mundo – o que equivale a mais animais mortos do que o número total de humanos mortos em todas as guerras já travadas no planeta Terra.

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Melanie Joy, Ph.D. (Cortesia do site Live and Let Live)

Mais de 98% desses animais são criados em fazendas industriais, geneticamente modificados e infundidos com hormônios e antibióticos para “adequadamente” alimentar uma população projetada de 9 bilhões de pessoas até 2050.Somos agora as cobaias de um experimento nutricional ainda a ser validado em seus resultados.

Atreva-se a questionar os fundamentos deste sistema, atreva-se a perguntar qual é a relação entre o aumento epidêmico de taxas de obesidade, doenças crônicas e a fome no mundo, entre alienação nutricional, e os vários movimentos “verdes”. Ainda mais importante, atreva-se a questionar o futuro mesmo da alimentação e da nutrição.

Drones, inteligência artificial, big data e nanotecnologia são os fatores-chave para a segurança alimentar e o despertar nutricional global. Agora, imagine…

Imagine um futuro onde as fazendas são cuidadas por drones que oferecem uma análise da saúde das colheitas em tempo real e com a convergência de tecnologia de sensores permitindo a entrega localizada de pesticidas inócuos geneticamente sintetizados.

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Com uma câmera infravermelha o drone consegue determinar a maturidade ideal das uvas para que possam ser colhidas em momentos diferentes (JEAN PIERRE MULLER / AFP / Getty Images)

Imagine um futuro onde cada agricultor, consumidor e especialista em saúde pode estar conectado a um banco de dados global em tempo real. 

“Se você pode obter informações ali na hora e se puder processá-las e enviá-las direto ao consumidor final, há uma enorme quantidade de otimização e eficiência que virá para a cadeia de valor da agricultura. Os agricultores podem plantar somente o que irão vender. Eles podem também formar cooperativas, o que torna a venda mais eficiente”,  afirma Dr. Corbett, fundador e executivo-chefe da aWhere Inc. de Broomfield, Colorado, nos Estados Unidos, uma empresa de inteligência agricultural, dizendo ainda: “Se você fizer isso em toda a cadeia de valor, toda a cadeia fortalece” e vê-se também o nascimento de uma economia mais colaborativa e compartilhada.

Completa consciência alimentar e interconectividade entre as pessoas que de fato importam dentro da rede. Nenhum intermediário. Sem manipulações corporativas. Controle completo. Como consumidor, você teria acesso ao local de onde sua comida veio, seu valor nutricional, bem como o impacto que esta tem sobre a sua saúde.

Neste cenário, gradualmente, veríamos uma mudança sociocultural orientada ao auto-aperfeiçoamento autônomo através da nutrição. Quanto às discussões relacionadas à força de trabalho em constante mutação, acredita-se que os “Millennials”, ao ocuparem cada vez mais posições de autoridade e decisão, irão mudar os valores das corporações do futuro. De acordo com o jornal Washington Post:

“O que os “millenials” mais querem é flexibilidade sobre onde, quando e como eles trabalham. Millennials, em pesquisa realizada, foram os que mais concordaram em tolerar reduções salariais, abrir mão de uma promoção ou  mudar de cidade se isto resultar numa melhor gestão do equilíbrio vida-trabalho”.

Há uma tendência evidente ao bem-estar, à autonomia e emancipação corporal e ao conhecimento verdadeiro sobre saúde.

Imagem cortesia do site World Food Day

Imagine um futuro em que nossa alimentação não seja reduzida a alimentos puramente superficiais, mas focada em nutrição otimizada e longevidade de vida. De impressão em nanoescala 3D de DNA de alimentos à criação de pesticidas inteligente e inócuos; da utilização da nanotecnologia, como um meio de produzir embalagem de alimentos inteligentes ao “delivery” de nutrientes direto no meio intracelular, à elaboração de métodos para aumentar a absorção e a ativação de vitaminas, minerais e demais nutrientes.

TEDx Maria DeRosa

Maria DeRosa explica no TEDx CarletonU, como a nanotecnologia pode ajudar a alimentar o mundo. Para assistir ao vídeo em Inglês, clique aqui.

Max-N-Fuze é uma empresa canadense focada em fornecer líquidos infundidos com nanopartículas capazes de prover as necessidades nutricionais diárias ideais. Em uma porção, você tem o equivalente a 6 porções de amêndoas para igualar a quantidade necessária de vitamina B-2, 150 dentes de alho para prover toda quantidade de vitamina B-1 e outras necessidades alimentares básicas que  dificilmente poderiam ser cumpridas por meios convencionais e hábitos alimentares; tudo isto sendo fornecido por uma única porção do líquido.

Imagine um futuro de curadorias de alimentação saudável feitas para atender suas necessidades e preferências alimentares, permitindo-lhe completa lucidez nutricional e acesso a informações fidedignas sobre sua nutrição e outras notícias sobre “recalls” alimentares, novidades e benefícios, ao alcance de seus dedos.

Imagine um mundo em que a realidade aumentada permitirá uma experiência de compras de supermercado totalmente diferente e envolvente.

Imagine um futuro “open source”, em que a estrutura de alimentos e sua composição genômica nutricional sejam acessíveis e passíves de transformação, permitindo uma agricultura mais eficaz e acessível; imagine isso em conjunto com espectroscopia em imagens de satélite e scanners portáteis que permitem a colheita precisa, em tempo real e a análise do produto; tanto para profissionais quanto para os consumidores.

TRANSCENDENCE

Cena do filme Transcendence (2014) com o ator Johnny Deep.

Em filmes como Transcendence (2014), vemos uma descrição pós-apocalíptica de um mundo duramente afetado pelo uso acrítico de tecnologias emergentes e uma tentativa reconstrução mundial massiva da agricultura sustentável como uma forma de restaurar o equilíbrio dinâmico de um sistema danificado.

Da mesma forma, quando se olha para as profissões previstas para o futuro, vemos uma maior ênfase na sustentabilidade e em tarefas autônomas voltadas para a melhoria de nossa saúde e nutrição. Recentemente, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) concordaram em reforçar a sua cooperação para promover o comércio internacional seguro de alimentos, de forma a melhorar a alimentação global e permitir que os produtores de pequena escala tenham melhor acesso aos mercados agrícolas internacionais.

A discussão crescente sobre fazendas verticais também nos impulsiona a dietas mais saudáveis e inteligentes, devido aos tipos de alimentos (principalmente frutas e legumes) que podem ser cultivadas em espaços confinados.

Da Singularity University, a IBM, Google, Apple, Microsoft e outros grandes players, vemos um movimento enorme no mundo da tecnologia “wearable”, que se torna fortemente investido em saúde pessoal. Produtos alimentares sintéticos (porém saudáveis) e mais sustentáveis ​​também estão sendo criados em laboratórios.

Para se adaptar a estas mudanças, os profissionais de saúde deverão se tornar universalmente mais acessíveis – abrindo porta para a “medicina fase zero”, fortemente focada na prevenção e bem-estar.

Um despertar público massivo para os perigos da nossa indústria alimentar está em curso. Toda a tecnologia mencionada acima já é uma realidade. Onde isto vai nos levar? O que isso significa? Depende de nós. Continuaremos sendo manipulado ou nos tornaremos os consumidores empoderados que desejam coletivamente conectar os pontos que estão faltando entre nutrição e sistemas de saúde hoje? Nós decidimos. O futuro está em nossas mãos.

Para ler essa matéria em Inglês, clique aqui.

Rafaela Frota

Rafaela Frota é uma pesquisadora e empreendedora com foco no desenvolvimento de novas soluções para aumentar a conscientização nutricional através de big data e tecnologias emergentes. Entre seus projetos, estão a Wawwe, um aplicativo que auxilia as pessoas a se alimentarem de forma mais saudável, e um scanner portátil para detectar pesticidas. Certifique-se de visitar a página da Wawwe no Kickstarter e torne-se parte dessa jornada. Faça uma contribuição para que o aplicativo chegue mais rápido em suas mãos.

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