Você já se perguntou se a empresa para a qual trabalha, ou dirige, está preparada para a competição do futuro? O questionamento é pertinente desde sempre, porém atualmente vem ganhando maior importância uma vez que a velocidade das mudanças acelerou de forma jamais vista.

A provocação feita por Salim Ismail, fundador da Singularity University e um dos principais pensadores sobre o futuro das organizações, em seu livro Organizações Exponenciais, aborda o tema de forma brilhante. O livro pode ser encarado como um guia organizacional para o entendimento das características de uma empresa dentro do cenário econômico futuro e a tecnologia é o principal agente de mudança.

Vamos lá! Nos últimos 20 anos, as bases competitivas das organizações sofreram alterações significativas. A tecnologia alterou completamente a maneira como são encarados os concorrentes e acelerou a introdução de novos produtos, serviços e modelos de negócio.

A tecnologia agiu como um combustível em um dos principais mecanismos econômicos responsáveis pelo equilíbrio entre disponibilidade de um determinado bem, a chamada lei da oferta e da procura. Essa lei  está fundamentalmente baseada, na capacidade de produzir um produto ou serviço (ofertar), e do interesse (procura) em relação ao mesmo.

O que estamos vendo hoje, e o que se projeta para o futuro, segundo organizações como a OMC, é um crescimento tanto da oferta quanto da procura. Para que possamos projetar o futuro das empresas, é necessário antes, entender a evolução das condições de oferta e procura ao longo da história até hoje.

Nos primórdios, quando surgiram as primeiras organizações em comunidade, as pessoas se divididiam e especializavam-se em atividades como construção, caça e agricultura, aumentando assim, a primeira escala de desenvolvimento.

O primeiro salto evolutivo ocorreu quando foi possível domesticar os animais, o que possibilitou aumentar a capacidade de geração de alimentos. Os animais deram suporte ao aumento da demanda ocasionado pelo crescimento populacional.

Por anos vivemos um crescimento linear onde o aumento da mão de obra e da disponibilidade de terra determinavam as condições da oferta. Porém, entre 1760 e 1830, veio o segundo grande divisor de águas em relação à oferta e procura: a Revolução Industrial.

Essa revolução permitiu ao homem triplicar a sua produtividade gerando ganhos de escala: agora era possível que apenas 1 homem operando uma máquina pudesse fazer o trabalho de 100 homens. O resultado desse ganho foi o acesso das pessoas a produtos e  bens uma vez que a escala tornava-os mais baratos. Assim, o homem deixava de ser o fator limitante, e dava lugar à capacidade das máquinas e dos investimentos em bens de capital feito por indústrias e governos.

Importante notar que nos dois saltos evolutivos anteriores, as bases para o crescimento estavam motivadas no aumento de escala por meio da ampliação de capacidade, que antes estava ou nas mãos dos caçadores e dos agricultores, ou na produtividade das indústrias. Ambas as iniciativas levavam tempo para desenvolvimento, treinamento e especialização da mão de obra, além de consideráveis investimentos de capital.

Hoje, estamos em meio ao terceiro salto evolutivo onde a tecnologia assume o papel de protagonista, desmaterializando o que antes era físico e transferindo para o digital. A velocidade com que isso vem acontecendo é o fator por trás da aceleração da mudança. Da mesma maneira como a revolução industrial abalou as bases produtivas e o acesso aos bens da época, a tecnologia vem alterando profundamente as condições de disponibilidade e de acesso a novos produtos e serviços.

O que vimos até agora, foi uma revolução e reinvenção dos produtos e serviços: a indústria de comunicação impressa se reinventou tornando os jornais quase obsoletos; a transformação da indústria fonográfica, exigindo que os artistas assumissem um papel mais ativo em turnês do que apenas a venda de seus álbuns; a aposentadoria de indústrias e gigantes inabaláveis do mercado fotográfico e de enciclopédias; a transformação contínua na maneira como estamos adquirindo novos produtos no varejo online; e como adquirimos novas habilidades por meio de professores digitais com seus próprios canais.

Presenciamos até 20 anos atrás, um crescimento linear da oferta e da procura. Com o avanço da tecnologia, da internet, e o acesso democrático de mais pessoas em rede, emergiu uma nova forma de gerar valor. Nosso crescimento deixou de ser uma progressão de +1, onde 1 se torna 2, que se torna 3…. para uma duplicação composta em que 1 se torna 2, que se torna 4 que se torna 8 e assim por diante, crescendo exponencialmente.

A tecnologia permitiu expandirmos a nossa capacidade, tanto em termos de acesso a produtos e serviços que antes eram impossíveis pelas barreiras físicas, quanto pela condição de podermos processar maior volume de dados e atuar como agentes da transformação econômica produzindo novas soluções.

Vivemos em uma era empreendedora e de acesso cada vez mais democrático. A oferta de novos produtos e serviços deixou de ser apenas para aqueles que possuem grandes orçamentos. Novas pessoas estão fazendo parte do mercado tornando-se clientes ou criando novos negócios. Novas forças surgem como: Crowdfunding, Crowdsourcing; Tecnologias Exponenciais; DIY (Do It Yorserlf – faça você mesmo); Rising Billion (milhão emergente); e com isso tratará um enorme potencial para resolver problemas e desafios.

As organizações precisarão se preparar e se adaptar a esta aceleração de mudanças promovidas pela tecnologia. Peter H. Diamandis, desenvolveu um modelo que ele chama de “6 Ds”, o qual demonstra  uma reação em cadeia da progressão tecnológica, o que ele define com um “mapa rodoviário de rápido desenvolvimento que sempre leva a rebeliões e a oportunidades”. Esse modelo pode servir como guia para mudança das organizações:

Crédito: Peter H. Diamandis

Digitalização: mudança de um processo ou produto que muda do físico para o digital adquirindo poder exponencial;

Decepção: período onde o crescimento exponencial fica disfarçado pelas baixas taxas de crescimento inicial;

Disrupção: tecnologia que cria um mercado ou abala outro existente;

Desmonetização: retirada do dinheiro da equação, gerando uma economia paralela;

Desmaterialização: desaparecimento dos produtos e serviços;

Democratização: quando os custos tangíveis ficam tão baixos que se tornam acessíveis para a maioria das pessoas.

O exercício que deve ser feito nas organizações para responder ao questionamento inicial provocado, seja você um colaborador ou um dirigente, é uma avaliação do que está sendo feito hoje para construir uma organização capaz de permanecer ou tornar-se mais competitiva em um futuro de rápidas mudanças, onde a tecnologia será fator chave, e a democratização da oferta e da procura continuará crescente.

Comece a olhar para o mapa do futuro exponencial como viés de oportunidade, porque a única certeza do futuro das organizações será a mudança cada vez mais acelerada: ou você provoca a disrupção ou será ameaçado por ela.

Imagem da capa: Singularityhub.com

Lucas Cezar

Administrador e sócio fundador da Perspectiv, empresa de fomento ao empreendedorismo e inovação, voltada ao desenvolvimento de negócios que impactem positivamente o ecossistema em que estão inseridas. Consultor do Sebrae, é apaixonado pelo empreendedorismo, acredita que este é o principal agente transformador econômico e social: é por meio dele que pessoas colaboram umas com as outras gerando valor mútuo, e por consequência tornam a sociedade mais justa. Lucas é especialista em viabilizar projetos de novos negócios e estimular a proatividade estratégica e reinvenção de organizações existentes.

Ver todos os artigos