Coisas como satélites para uma Internet global, realidade virtual ou telefonia, são “café pequeno” diante do futuro da comunicação que o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, imagina.

No dia 30/06/2015, em uma sessão de perguntas e respostas com os usuários do site, Zuckerberg disse que prevê um mundo onde as pessoas – possivelmente os usuários do Facebook – não precisarão mais desse tipo de intermediário para poderem comunicar-se.

Em vez disso, as pessoas irão se comunicar usando a telepatia. Eis uma das respostas dele sobre o futuro do Facebook:

Um dia, eu acredito que seremos capazes de enviar diretamente para outras pessoas, pensamentos completos, usando a tecnologia da telepatia. Você vai ser capaz de pensar em alguma coisa e seus amigos serão imediatamente capazes de experimentar também.”

Zuckerberg continua:

Antes, a gente costumava compartilhar apenas texto. Agora, postamos principalmente fotos. No futuro, o vídeo será ainda mais importante do que fotos. Depois disso, experiências imersivas como a VR (realidade virtual) irão se tornar corriqueiras. E depois, teremos o poder de compartilhar nossa experiência sensorial e emocional com pessoas, sempre que quisermos.”

Mas isso é possível?

Sim. As pesquisas em tecnologia de comunicação telepática têm evoluído a passos largos.

Zuckerberg vislumbra uma forma avançada de comunicação cérebro-cérebro em que as pessoas podem se conectar e trocar experiências e pensamentos.

Ele fala de uma via de mão dupla: poderíamos não apenas “ler” a mente, mas também enviar um padrão de sinais elétricos para a mente de outra pessoa.

Mapeamento da atividade cerebral

MRI

Para entender como a previsão de Zuckerberg pode funcionar, é preciso entender como o cérebro funciona.

Nosso sistema nervoso é composto de células chamadas neurônios, as quais se comunicam umas com as outras usando sinais químicos chamados neurotransmissores. Quando um neurônio recebe um desses sinais, é gerado um pequeno pico eléctrico.

Tudo o que fazemos gera estes picos elétricos no cérebro. O tempo todo. Desde clicar o mouse, fazer a leitura de um texto ou lembrar de um amigo.

Do ponto de vista puramente técnico, é possível medir e mapear a atividade cerebral de uma pessoa e ter uma noção do que ela está pensando. A ressonância magnética funcional (fMRI), o eletroencefalograma (EEG) ou o implante de eletrodos no cérebro podem revelar algo sobre a atividade do cérebro em tempo real.

Mas a leitura dos sinais é apenas uma etapa. Decodificar é outra questão. Não há nenhuma área exclusiva do cérebro que governe os pensamentos; a forma como uma pessoa experimenta o pensamento envolve simultaneamente múltiplas partes do cérebro. O pensamento teria então que ser capturado em diferentes áreas, explica Christopher James, professor da Universidade de Warwickshire no Reino Unido.

Os primeiros passos da comunicação telepática

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Print do vídeo sobre um experimento realizado pela UC Berkeley (YouTube). A imagem esquerda acima mostra um trecho do filme assistido pelos participantes do experimento, enquanto a imagem direita mostra o trecho reconstruído a partir da atividade cerebral dos participantes enquanto assistiam ao filme.

 

Na Universidade da Califórnia, em Berkeley, uma equipe de cientistas cognitivos conseguiu reconstruir trechos de filmes, apenas com base nas medições das ondas cerebrais das pessoas que assistiam a estes filmes.

“Você não pode ver os detalhes, como por exemplo ver o close de um rosto, mas pode identificar claramente um objeto” escreveu o físico Michio Kaku depois de assistir a um dos filmes.

Alguns testes já foram feitos com resultados impressionantes. O pesquisador brasileiro Miguel Nicolellis, um dos pioneiros neste tipo de pesquisa, relata as experiências realizadas com macacos e com ratos, em seu livro “Muito Além do Nosso Eu”.

Em 2013, cientistas da Universidade de Duke, liderados por Miguel Nicolellis, implantaram microeletrodos no cérebro de dois ratos de laboratório e ensinaram a um dos ratos a pressionar uma das duas alavancas. O segundo rato, que não tinha sido treinado, sabia exatamente qual alavanca deveria empurrar, depois de ter recebido os sinais neurais do primeiro rato, através do implante. Toda vez que o primeiro rato empurrava a alavanca 1, o segundo rato, em outro ambiente, que também tinha duas alavancas, empurrava a alavanca 1.

Esse experimento foi também realizado com um rato nos Estados Unidos e outro no Brasil. Os resultados obtidos foram os mesmos quando comparados com as pesquisas realizadas a curtas distâncias.

Recentemente os pesquisadores tiveram sucesso com uma técnica não-invasiva chamada estimulação magnética transcraniana, ou TMS. Quando uma pessoa coloca um fone de ouvido TMS, ele gera um campo magnético sobre o couro cabeludo, que pode ser usado para ativar e captar as vias neurais.

Recentemente experimentos com TMS foram realizados na Índia. Foi possível captar o “pensamento” das palavrasOlá” e “Tchau“, e as remeter para pessoas que estavam na França.

O processo foi realizado com as palavras sendo enviadas por partes, porque tiveram que ser codificadas de forma binária e assim enviadas pela Internet, sendo baixadas na França e em seguida decodificadas e enviadas para o cérebro dos participantes dos experimentos.

A tecnologia está apenas começando

Image: 0102461440, License: Rights managed, MODEL RELEASED. Woman holding her temples, conceptual artwork., Property Release: No or not aplicable, Model Release: No or not aplicable, Credit line: Profimedia-Red Dot, Sciencephoto RM

Tudo isso é muito promissor, mas a tecnologia da comunicação telepática ainda está nos estágios iniciais.

Os sensores precisam ser aprimorados, porque a informação ainda não é 100% exata (o rato escolheu a alavanca errada algumas vezes), e é mais lenta do que praticamente qualquer outra forma de comunicação moderna como celular, email, sms etc.

Estas experiência também são feitas com equipamentos muito caros. Há um longo caminho para podermos testar essas coisas em casa, de forma que é improvável que hoje tenha qualquer impacto prático.

Por outro lado, novas pesquisas e experimentos estão acontecendo rapidamente.

Entre outras coisas, os pesquisadores estão buscando desenvolver máquinas portáteis do tamanho de celulares, que poderão realizar a ressonância magnética de forma portátil, e tornar mais fácil e mais barata a captura da atividade cerebral.

O exército dos EUA está desenvolvendo um capacete telepático. Ele será projetado para funcionar de forma que seja capaz de condensar e simplificar todo o processo de captação e transmissão de pensamentos. O capacete enviará o pensamento para outras pessoas que usem o mesmo tipo de equipamento.

Muitas perguntas…

telepatia 3

A pergunta que fazemos é: O Facebook está desenvolvendo alguma tecnologia nesse sentido?

Não sabemos ainda. A divisão do Facebook focada em inteligência artificial e realidade virtual não publicou nada sobre qualquer trabalho em comunicação telepática.

Porém, mesmo que o Facebook não esteja ainda realizando pesquisas para a telepatia – existe a questão do consentimento e da privacidade dos usuários. Aliás, esse assunto apresenta muitos desafios éticos, mesmo que apenas na teoria.

Por exemplo:

– Como uma pessoa irá controlar quem “falou” com ela?

– O que impede alguém de mandar pensamentos perturbadores ou abusivos, ou de alguma forma “hackear” o cérebro de outra pessoa?

– E se esses sinais são moderados por alguma tecnologia de terceiros, como um fone de ouvido ou um capacete, eles serão gravados e salvos de alguma forma? E por quem e com que finalidade?

– Estes pensamentos poderiam ser sequestrados, como os do filme Minority Report?

– Será possível capturar pensamentos privados?

– Poderemos transferir conhecimentos de uma pessoa para outra ou de uma máquina para uma pessoa, como no filme Matrix?

A lista de dúvidas é grande…

Ainda não temos respostas para estas perguntas. Um artigo acadêmico sobre a ética da tecnologia cérebro-cérebro, publicado em 2014, advertiu que não existe legislação e nem um protocolo acadêmico formal para esse tipo de pesquisa. Os escritores previram que a tecnologia poderia eventualmente provocar “alvoroço público“.

Em função da velocidade das descobertas, teremos que enfrentar estas perguntas em breve.

O que Zuckerberg mostra é que a tecnologia já existe e está avançando rapidamente, podendo um dia ser usada por qualquer pessoa, inclusive pelo Facebook.

 

Fontes: Live Science e The Star.

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