“Imagine se uma sociedade inteira fosse transportada repentinamente para um novo mundo” provocou o futurista Alvin Toffler no artigo The Future as Way of Life (O Futuro Como um Modo de Vida), publicado na revista Horizon, edição de Verão de 1965.

Toffler acreditava que o resultado seria uma desorientação em massa, um choque futuro em grande escala.

Voltando à 2017, esse “choque futuro” já é observado com a velocidade exponencial dos acontecimentos.

Só que esse “choque” é distribuído de forma desigual entre as pessoas. É o que pensa outra futurista, a Marina Gorbis, e ela não está se referindo à famosa frase de William Gibson, escritor de ficção científica, de que “O futuro já está aqui – só não está igualmente distribuído”.

O que ela quer dizer é que se você, por exemplo, estivesse no Vale do Silício, o pensamento futuro (futures thinking) teria se tornado uma realidade cotidiana, algo que possivelmente estaria enraizado profundamente em sua mente, como se tivesse tornado um modo de vida para você.

Isso porque lá, no Vale do Silício, qualquer startup, incubadora, grupo de pesquisa e empresa de capital de risco vive e respira o futures thinking. Lá, as conversas giram em torno de disrupções de indústrias, transformações revolucionárias, e pensamento exponencial.

Se você estivesse lá, nesse seleto meio, e não estivesse fazendo nada diferente ou não causando alguma disruptura em um mercado X, certamente você não iria atrair investidores, receber convites para falar, ou ser mencionado nas mídias sociais.

E você, que vive no Brasil?

Pessoas comuns (a maioria da população) sentem-se como vítimas impotentes do futuro….

E, Marina observa que essa disparidade se aprofunda a um ritmo assombroso:

Para um jovem que vive em um país devastado pela guerra ou em uma selva urbana, desenvolver o pensamento futuro seria um luxo que ele não poderia pagar. Quando você vê muitos de seus amigos morrer ou ir para a cadeia antes dos vinte anos, o futuro significa sobreviver dia após dia. Se você perdeu o emprego ou a economia do seu país está arruinada, você se sente como uma vítima do futuro. Um futuro que alguém está criando, mas que não é você.”

Futures Thinking

Como diz o futurista Bruno Macedo, vivemos em uma era extremamente VUCA (volátil, incerta, complexa e ambígua). Por isso o futures thinking é uma habilidade crucial do século XXI.

Ela está sendo considerada a habilidade mais importante para ser desenvolvida neste mundo em rápida mudança, onde tantas de nossas suposições e formas de fazer as coisas estão sendo viradas de cabeça para baixo.

Marina defende que esta habilidade seja desenvolvida amplamente e se torne “um modo de vida” para pessoas que estão fora dos enclaves como o Vale do Silício, das grandes empresas, ou não são acadêmicos think tanks:

Os futuristas deveriam possibilitar que um número crescente de pessoas possa desenvolver essa habilidade. Para conseguir isso, será preciso distribuir, de forma ampla, as ferramentas do futures thinking e futures-maker.”

Em “Future Shock”, Alvin Toffler usou o termo “choque do futuro” para descrever uma doença psicológica que decorreria de uma mudança muito rápida. (Crédito: Bettmann)

 

Quando Toffler escreveu o artigo na Horizon e também o seu famoso livro “Future Shock”, ele considerava a disseminação do futures thinking e de estudos preditivos, como um negócio realmente sério.

Toffler fazia parte de uma geração de homens brilhantes (a maioria homens brancos e sim, o Futurismo ainda é fortemente dominado por eles) que defendiam a necessidade de pensar em longo prazo.

Mas, 50 anos depois, o que se vê é que a prática do futures thinking tornou-se apenas incorporada ao setor privado por meio de consultorias de estratégia corporativa e laboratórios de pesquisa.

Mais conversas e mais democratização do conhecimento

Segundo Marina, é preciso envolver mais e mais pessoas em conversas sobre como os cenários futuros podem mudar suas vidas…

Mas, para isso, seria preciso recrutar massivamente participantes ativos neste esforço urgente, desde demonstrar uma nova tecnologia, explicar uma descoberta científica inovadora ou até mesmo compartilhar uma obra de arte.

Isto nos ajudaria a lidar com alguns cenários apavorantes que um futurista às vezes deve pintar.

Jane McGonigal, pesquisadora de games e designer do IFTF (Institute for The Future) , cunhou o termo “Otimismo Urgente”, que quer dizer um senso de esperança e de urgência combinado numa coisa só…

Talvez agora, mais do que nunca, precisamos de mais pessoas para distribuir esse senso de Otimismo Urgente.

Embora alguns dos maiores futuristas, todos já falecidos, como Alvin Toffler, Paul Baran, Olaf Helmer e Douglas Engelbart, tenham sido excessivamente otimistas em relação à nossa capacidade de prever o futuro, o apelo deles à sociedade para que fosse desenvolvidas ferramentas e habilidades para o futures thinking, hoje é mais urgente do que nunca.

Distribuindo o Futuro

Nós, do O Futuro das Coisas, estamos fazendo nosso papel ao democratizar esse conhecimento.

E amanhã, dia 23/03, em parceria com a FEX – Future Explorers, vamos continuar explorando o futures thinking no Astrolab, de forma gratuita e em live no Facebook para que um número cada vez maior de pessoas possa começar a desenvolver essa habilidade.

Queremos contribuir para distribuir esse futuro, lembrando o que disse William Gibson.

 

Crédito da imagem da capa: Harvard Business Review

O Futuro das Coisas

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