Ainda nesse século, veremos muitas coisas sendo desmaterializadas…

Iremos ver a extrapolação dos limites do modelo de fabricação do século 19 ainda vigente, o qual depende completamente de matérias-primas – muitas vezes escassas, mal distribuídas, e até tóxicas…

Nesse “velho” modelo, as matérias primas são transformadas, por meio de uma grande quantidade de energia, em produtos de consumo, cujo destino, normalmente com pouco tempo de uso, é a lata de lixo ou o descarte.

Essa “civilização industrial” joga fora 50 bilhões de toneladas de minerais, minérios, combustíveis fósseis e biomassa por ano, de acordo com as Nações Unidas. Se continuarmos nesse caminho, espera-se que em 2050, essa quantidade aumente para 140 bilhões.

Por uma questão de urgência, precisamos desenvolver estratégias radicais de desmaterialização.

Desmaterialização significa diminuir a nossa dependência de recursos físicos. Ou seja, usar meios digitais em vez do papel. Assistir a uma série no Netflix em vez de alugar um DVD ou Blu-Ray. Consultar o Google ou Wikepedia em vez de ter uma enciclopédia em casa, ocupando espaço físico.

A realidade virtual já contribui muito para a desmaterialização. Por exemplo, enquanto incorporadoras imobiliárias precisavam gastar uma fortuna construindo um apartamento ou uma casa modelo ao lado do stand de vendas, hoje o potencial comprador pode usar óculos de RV e passear como se estivesse dentro do imóvel.

E isso está acontecendo com a comida, também. O futuro da desmaterialização inclui a possibilidade da carne e de outros alimentos serem produzidos sinteticamente.

Em face dessas possibilidades e das limitações do atual modelo de fabricação, um conjunto de mudanças tecno-sociais começa a mudar as bases da fabricação, rumo à desmaterialização.

Segundo o Institute for the Future (IFTF), há três processos-chave, para conduzir esta transformação.

Em primeiro lugar, a digitalização, que já está acontecendo, e está substituindo produtos e serviços físicos por versões digitais.

Em segundo, a atomização que está mudando os modelos de produção em direção à manufatura aditiva e ao design personalizado (impressão 3D).

E em terceiro lugar, a eco-sistematização, onde os componentes materiais vistos como parte de um grande ecossistema de matéria física, evolui para um modelo de regeneração constante.

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Durante a próxima década, com o declínio dos recursos e com os custos de energia mais elevados, isso irá acelerar a busca por uma fabricação mais sustentável para produtos e serviços. Essa transição irá mexer com muitos mercados e instituições. E, à medida que novas tecnologias surjam, os efeitos disruptivos irão se espalhar rapidamente, enfraquecendo qualquer país ou região que dependa das indústrias de exportação tradicionais. (Crédito: Institute for the Future – IFTF)

 

Esta ampla transformação exigirá mudanças não só nos processos de fabricação, mas também, nos materiais utilizados para produzir coisas.

Toda essa economia desmaterializada nos fará pensar de uma forma totalmente diferente que pensamos do modelo familiar de produção de bens e serviços.

Primeiro, é a possibilidade de colocar produtos e serviços em nuvem.

Segundo, é encontrar formas de tirar proveito de produtos que antes considerávamos resíduos. O mais importante será a capacidade de mudar prontamente os componentes para materiais reutilizáveis e reconfiguráveis.

O carbono, que pode ser tão macio quanto o grafite ou tão duro quanto o diamante, pode ser o material que escolhermos…

Em vez de nos preocuparmos em minimizar as saídas de carbono, podemos buscar formas de maximizar as entradas de carbono.

O resultado, no final desse século, talvez seja a possibilidade de eliminar um objeto físico simplesmente liberando seus componentes moleculares de volta para o fluxo da matéria e seus componentes de informações de volta para a nuvem.

A impressão 3D

Essa é uma das tecnologias que mais ajudarão a desmaterializar parcialmente a fabricação.

As impressoras 3D funcionam construindo objetos em camadas e adicionando material apenas quando realmente for necessário. Isto significa que a impressão 3D pode permitir que os produtos sejam feitos com menos matérias-primas.

A localização da fabricação

A questão da localização será um ponto crítico. Dentro de uma década ou duas, no máximo, o transporte de mercadorias básicas terá de ser significativamente reduzido. Isso significa que teremos de desmaterializar muitas coisas, incluindo, os nossos alimentos.

A impressão 3D pode reduzir custos de transporte. Hoje, muitos itens que são fabricados na realidade não chegam a ser comercializados. Em termos de vendas, um dólar em cada 7 é gasto transportando as coisas ao redor do planeta.

O desperdício de materiais pode ser reduzido bastante se os produtos forem transportados digitalmente através da internet e só impressos em 3D quando necessário, e tão próximo quanto possível do seu cliente final.

O desafio

Talvez a maior mudança na próxima década seja o surgimento da “Pandústria” – a reorganização da fabricação que acontecerá em todas as escalas, através de uma rede bastante distribuída de produtores.

A pandústria une a personalização, a independência e a distribuição da produção tradicional artesanal com a sofisticação do design e da velocidade de produção industrial.

Tecnologias “pandustriais” (por exemplo, as impressoras 3D) lentamente irão canibalizar as indústrias do século 20, assumindo diversos mercados.

Será preciso desmaterializar e realmente é preciso fazer isso acontecer. A pergunta é se estamos prontos.

Gerações mais velhas talvez não se incomodem tanto pois viveram em épocas de menos consumismo…

No outro extremo, os jovens de hoje passam boa parte do tempo online, compartilhando coisas digitalmente…

A faixa etária do meio terá que se adaptar a esse novo mundo de coisas desmaterializadas.

Crédito da imagem da capa: JustinDraws

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