Por milhares de anos, a evolução do ser humano tem ocorrido de forma relativamente estável. Seguimos as “lentas” regras evolutivas do mundo natural.

Se uma criança nascida no ano 1000 viajasse no tempo e parasse em 2015 e então fosse criada por uma família típica, em praticamente nada ela seria diferente de outra criança nascida no século 21.

Simplesmente porque as mudanças em um intervalo de mil anos são quase imperceptíveis: nós somos resultado de um longo processo de alterações.

Mas agora, os cientistas podem alterar radicalmente a velocidade desse processo e ainda, conseguir moldar um ser humano “perfeito”, livre de doenças e de características indesejadas.

Com as novas tecnologias de engenharia genética, como a ferramenta de edição de gene CRISPR / Cas9, os cientistas terão condições de criar uma geração de super seres humanos, embora haja muitas discussões éticas sobre esse assunto na comunidade científica: o conhecimento atual sobre genoma é incompleto, o que pode gerar riscos para a humanidade, mas pressão para continuar a expandir esse conhecimento é enorme.

Jamie Metzl, autor de Genesis Code e diretor estrategista na ORIG3N, mostrou durante sua palestra na Exponential Medicine, conferência organizada pela Singularity University no mês passado, como será o futuro da engenharia genética e o que podemos esperar.

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Jamie Metzl em sua apresentação na Exponential Medicine (Singularity University).

 

“Estamos no início de uma fase evolutiva guiada por um conjunto diferente de regras de auto-evolução e impulsionada pelas novas tecnologias”, Jamie Metzl.

 

Na sua apresentação, Metzl dividiu as novas capacidades da engenharia genética humana em três fases.

Primeira fase: seleção de embriões

A fertilização in vitro (FIV) reinventou o tratamento para mulheres com infertilidade. Hoje, o Diagnóstico Pré-implantacional (DGP ou DPI) possibilita o diagnóstico de alterações genéticas e cromossômicas em embriões de até 5 dias, antes da sua implantação, para conseguir que os bebês nasçam sem doenças hereditárias.

Metzl disse que eventualmente, eles serão capazes de identificar traços poligênicos e características mendelianas, e de fazer análises genômicas completas para selecionar embriões sem doenças genéticas e isso pode levar à seleção de outras características também.

“Nós começaremos a entender não apenas se uma criança é portadora ou não da doença de Huntington, mas também seremos capazes de saber tudo a partir do genoma”, Jamie Metzl.

 

Stephen Hsu, vice-presidente de pesquisa e professor de física teórica da Universidade de Michigan, por exemplo, acredita que os seres humanos superinteligentes estão chegando, e que em cerca de 10 anos será possível prever o QI de uma pessoa a partir de uma célula.

Fase 2: aumento da quantidade de óvulos

Hoje, numa reprodução assistida, quinze é a média de óvulos extraídos numa mulher para a fertilização in vitro.

No futuro, será possível pegar as células-tronco e transformá-las em células somáticas, e depois transformar esses óvulos em óvulos verdadeiros, tornando um recurso quase ilimitado.

Essa quantidade ilimitada de óvulos aliada à capacidade de análise genômica em cada um deles resultará numa seletividade muito maior de embriões.

Fase 3: edição precisa dos genes

Além da capacidade de selecionar características a partir de uma gama de embriões, finalmente será possível adicionar um novo DNA. Tecnologias de edição de gene já permitem que cientistas façam cortes precisos no genoma e até mesmo substituam completamente alguns genes.

Embora a maioria dos cientistas se interesse na edição de genes para prevenir doenças em recém-nascidos, Metzl acredita que o processo de eliminar estas doenças, mais tarde, abrirá a porta para muitos outros tipos de manipulação genética.

O futuro

Não sabemos exatamente como será o futuro da engenharia genética humana, mas Metzl acredita que será semelhante ao debate sobre a vacinação em recém-nascidos. Alguns pais vão optar e outros não, e haverá consequências em ambas as escolhas.

Ano passado, Metzl escreveu um artigo na US News, explicando que como a ciência está avançando mais rápido do que a nossa conscientização é fundamental que nós começamos uma conversa global sobre as implicações éticas e sobre a segurança da revolução genética e começar a pensar sobre o que um quadro regulamentar que tanto apoie pesquisas importantes como também evite abusos.

A ONU já está pedindo uma moratória da manipulação do genoma humano. A preocupação do Comitê Internacional de Bioética é com os rápidos avanços que podem tornar o “design de bebês” uma possibilidade. Embora, os especialistas destaquem que mudanças no genoma são sem dúvida uma das propostas mais promissoras da ciência para o bem da humanidade, ao mesmo tempo, destacam que “intervenções no DNA só podem ser aceitas em caso de prevenção ou por razões terapêuticas.

Metzl concluiu a sua apresentação na Exponential Medicine com uma chamada à ação, conclamando as comunidades científicas e médicas a abrirem a conversa para o público, uma vez que irá afetar todos nós.

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