Singularidade – o ponto em que a inteligência artificial terá superado à inteligência humana – poderá alterar radicalmente a civilização e a natureza humana.

Esse evento histórico, previsto para o futuro, é ansiosamente aguardado como o momento onde o homem, por meio da tecnologia, alcança a imortalidade.

Essa imortalidade pode acontecer quando for possível, por exemplo, fazer o upload da mente humana para o computador, dentre outras possibilidades. Ou ainda, o acesso ao conhecimento infinito, com a implantação de nanobots no cérebro humano, como já abordamos aqui no O Futuro das Coisas.

Mas, como as religiões encaram essas possibilidades?

A Igreja Católica emitiu uma declaração oficial sobre a Singularidade e transumanismo, que é a idéia de usar a tecnologia para alcançar o próximo estágio da evolução humana.

Na declaração, o XVIII International Science and Life Congress afirmou que a tendência para formas de vida não-humanas tem o efeito colateral de desvalorizar a vida humana em si.

No entanto, a maioria das religiões ainda não teve tempo para assimilar todo o potencial da Singularidade. Mas, é possível prever como os líderes das principais religiões podem reagir a essa ideia. O site Motherboard fez uma análise sobre esse assunto. Vamos ver a seguir.

As Religiões Abraâmicas e a Singularidade

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A maior resistência em relação à idéia da Singularidade seria provavelmente das religiões abraâmicas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.

Todas essas religiões defendem a ideia de uma alma imutável; Eles acreditam que os seres humanos são criaturas únicas criadas por Deus ou Alá e que a alma e o corpo estão interligados.

Essas religiões sabem que a Singularidade pode abrir oportunidades para as pessoas evitarem a morte física, enquanto esperam a Segunda Vinda de Cristo.

Porém, isso teria um efeito negativo sobre a doutrina cristã e judaica Imago Dei, que prega que o homem é feito à imagem de Deus.

O mesmo poderia ser dito sobre a doutrina islâmica que enfatiza a singularidade de Adão no momento de sua criação no Jardim do Éden.

Muitos cristãos e judeus consideram a teoria do Imago Dei sagrada, e acreditam que ela fornece ao homem à capacidade de imaginar e raciocinar.

Se a Singularidade criasse uma máquina com capacidade de raciocinar e de imaginar, isso daria aos teólogos razão para duvidar se o raciocínio do homem origina-se de fato no Imago Dei.

Por esse motivo, os estudiosos islâmicos e cristãos são céticos quanto à possibilidade de um dia os computadores conseguirem armazenar a mente humana.

Os Mormons Transumanistas

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Enquanto a Singularidade parece se opor às doutrinas fundamentais da tradição abraâmica, há um pequeno grupo de pessoas mais abertas a esse conceito.

Ao longo dos últimos dez anos, alguns cristãos e mórmons fundaram grupos pró-Transumanismo, como o Mormon Transhumanist Association ou Christian Transhumanist Association. Eles acreditam que sua fé seja compatível com os princípios da Declaração de Transumanismo.

Lincoln Cannon, presidente da Associação Mormon Transumanista, afirma que a fé mórmon é bastante compatível com a Singularidade porque eles acreditam que estão “progressivamente sendo transformados em seres imortais.”

Essa transformação acontece em duas fases: na transfiguração e na ressurreição. A transfiguração dá às pessoas uma mudança física e espiritual temporária que permitiria que elas vivam na presença de Deus. A ressurreição é a recriação completa de seus corpos à imagem de Deus.

Cannon acredita que isso incluiria a incorporação da tecnologia,  tanto em dispositivos que melhoram a vida como também a transferência da consciência para uma máquina ou para um “avatar”.

Mesmo com toda essa tecnologia, Cannon enfatiza que todos os Mórmons terão que passar pelo processo de ressurreição, independentemente da condição de seus corpos.

As Religiões Orientais e a Singularidade

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Enquanto as religiões abraâmicas e ocidentais podem ter alguns problemas doutrinais em relação à Singularidade, as religiões orientais são mais abertas.

Muitos budistas e hindus proeminentes, incluindo o Dalai Lama, expressam apoio à projetos de Singularidade. Isso inclui a Iniciativa 2045, um grupo de transumanistas que está tentará construir um corpo artificial (ou “avatar“) que pode armazenar a consciência após a morte.

O futurista budista James Hughes, na revista budista Tricycle (2010), afirma que as doutrinas do budismo são perfeitamente compatíveis com a Singularidade, porque elas não precisam de um senso de “self”.

Não dar tanta ênfase à “alma” permite à doutrina budista aceitar mais facilmente as implicações de uma máquina se tornar senciente, ou aceitar a ideia de transferência da mente para um computador.

A concepção hindu da alma é semelhante à concepção budista. Os hindus acreditam na “Atman“, um elemento da alma, que não pode ser acessado ou compreendido pelos sentidos materiais.

Esta alma está condenada a uma existência de morte, de sofrimento e de reencarnação. No entanto, um Atman que “percebe” em si poderia, eventualmente, passar para o reino de Realidade Última, conhecida como “Brahman“.

O fato de que um de Atman é constantemente reencarnado em uma variedade de corpos não contradiz a Singularidade. Na realidade, essa tal evolução possibilitaria a um hindu dedicado transferir sua mente para uma máquina, e deixar ele passar o resto de sua vida em busca de auto-realização.

 

Fontes: Kurzweil AI, Big Think e Motherboard.

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