O que o futuro nos reserva? Mudanças – muitas e inimagináveis. Uma previsão quase unânime é que o futuro da economia e do nosso trabalho será sedimentado sobre tecnologia e criatividade.

Elon Musk disse uma vez que a ameaça da máquina é a “maior ameaça existencial” da humanidade. Concordo. A falta do trabalho – ou o trabalho que não seja significativo para quem o exerce – gera problemas existenciais.

De fato, a tecnologia vai substituir muitos empregos. Nem mesmo quem trabalha com a mente – raciocínio, lógica e conhecimento – está imune. Citando apenas duas profissões, na área jurídica 39% dos empregos podem ser automatizados nos próximos 10 anos; os contadores têm 95% de chance de perder seus empregos com a automação.

Quando a tecnologia assume o controle e dá um “tchauzinho” para quem suava a camisa, isso gera um medo residual para quem permanecem na ativa. É natural que as pessoas se questionem: “Serei a próxima, serei o próximo?”

Mas, à medida que a inteligência artificial assume tarefas mecânicas e rotineiras, também é previsto que haverá oportunidades para quem puder combinar habilidades criativas e sociais – habilidades que são resilientes à futura automação do trabalho – à capacitação técnica.

E já que falamos em inteligência artificial, como fica a inteligência humana nessa história?

Jean Piaget afirmava que a inteligência é a capacidade de se levantar hipóteses. Para ele, a hipótese seria uma crença a qual se reserva o direito de voltar a trás e, assim, seguir outra direção. Definir a inteligência pela reversibilidade não é outra coisa senão dizer que a inteligência tende a um estado de equilíbrio da organização das funções cognitivas.

Piaget, que buscou entender como nascia a inteligência da criança, afirmava que a inteligência é algo que se modifica, e que chega a um ponto tal que já consegue elaborar hipóteses. Para ele, a verdadeira inteligência seria a capacidade de resolver problemas quando não havia pistas de como solucionar.

Entra em jogo a criatividade.

A criatividade para inventar, inovar e solucionar problemas. A criatividade como vacina antiautomação.

A criatividade começa bem cedo. Toda criança tem um potencial incrível: o desejo de aprender sobre o mundo e sobre si mesmo através do brincar.

No entanto, essa curiosidade e esse potencial criativo frequentemente são erodidos pela educação convencional nas escolas. O Teste de Torrance do Pensamento Criativo mostra que o pensamento divergente das crianças diminui com o tempo. Enquanto 98% das crianças no jardim de infância são “gênios criativos” – elas podem, por exemplo, pensar em infinitas possibilidades de como usar certas coisas – essa capacidade é reduzida drasticamente à medida que as crianças passam pelo sistema de ensino formal. Aos 25 anos, apenas 3% permanecem com sua genialidade criativa.

Paul Schumann diz que para nos prepararmos para o futuro, devemos ser criativos:

A criatividade nos levará à descobertas, invenções, inovações e melhorias que impulsionarão o crescimento econômico global. A criatividade será necessária para superarmos os problemas econômicos nacionais em que nos encontramos, para enfrentar a crescente concorrência mundial e para enfrentar o desafio de um tempo de rápidas inovações. Devemos nos tornar estudantes do futuro para que possamos planejar e enfrentar esses desafios. Devemos ser sensíveis ao presente para que possamos detectar os fatores que afetarão o nosso futuro. E devemos estar dispostos a mudar, tendo sempre em mente a definição mais ampla de nós mesmos. Isso é imperativo em um momento de mudança, pois é apenas dentro de conceitos amplos que podemos nos adaptar à mudança.”

É imperativo que cada um de nós liberte a criatividade, para nosso próprio bem.

O Fórum Econômico Mundial em seu relatório Capital Humano 2017 lista o conjunto de habilidades exigidas na Quarta Revolução Industrial. Resolução de problemas complexos, pensamento crítico e criatividade são as três habilidades mais importantes que alguém precisa para prosperar. Vale ressaltar que a criatividade saltou do décimo lugar para o terceiro lugar em apenas cinco anos.

No Reino Unido, por exemplo, é previsto que as ocupações criativas cresçam 5,3% nos próximos seis anos. Isso representa o dobro do crescimento do emprego projetado em toda a economia de lá, com um acréscimo de 119.495 empregos criativos em 2024.

A McKinsey, que vem estudando qual seria o tipo de trabalho mais imune à ameaça da automação, conclui até agora que trabalhos que requerem um alto grau de imaginação, análise criativa e pensamento estratégico são os mais difíceis de automatizar.

Criatividade gera valor para os negócios?

A resposta é sim. Essa conclusão veio da análise da McKinsey de um proxy amplamente reconhecido sobre criatividade. Eles desenvolveram uma medida quantitativa que pode ser usada para examinar a conexão entre a criatividade e o desempenho dos negócios, chamada Award Creativity Score (ACS). Esse índice é baseado na prestigiada premiação Cannes Lions concedida anualmente para empresas pela excelência em publicidade e marketing.

O índice ACS pesa três fatores: o número total de Leões ganhos por cada empresa entre 2001 e 2016, com mais pontos atribuídos para os prêmios mais prestigiados; a amplitude das categorias representadas; e a consistência ao longo do tempo, com base no número de anos que uma empresa foi reconhecida.

Os pesquisadores da McKinsey descobriram que:

1- A criatividade está no centro da inovação nos negócios, e a inovação é o motor do crescimento.

2- Negócios com pessoas criativas têm um melhor desempenho financeiro.

3- As empresas mais criativas são mais atentas aos clientes e entendem melhor os problemas que eles enfrentam.

4- Empresas com maior ACS são mais rápidas, ou seja, traduzem insights em ação – lançamentos de novos produtos ou novas campanhas de marketing – mais rapidamente do que seus competidores.

Por mais óbvio que possa parecer, criatividade e inovação precisam ser prioridades de negócios. Ainda mais importante, uma empresa precisa executar essas prioridades em suas práticas diárias.

Criatividade e Inovação: vamos celebrar?

Reconhecendo que a inovação e a criatividade são essenciais para criar um novo impulso para o crescimento econômico das nações e para a criação de empregos, as Nações Unidas (ONU) estabeleceram o dia 21 de abril para celebrar o Dia Mundial da Criatividade.

A Resolução 71/284, de 2017, da ONU, que estabelece essa data, busca aumentar a conscientização sobre o papel da criatividade e da inovação na solução de problemas para o desenvolvimento econômico, social e sustentável.

Já são mais de 50 países celebrando. No Brasil, o Dia Mundial da Criatividade começou a ser organizado em 2014 pelo psicólogo Lucas Foster, idealizador do Prêmio Brasil Criativo e um dos principais nomes da economia criativa no Brasil. A partir deste ano, a IdeaFixa, uma das maiores comunidades criativas da América Latina, se une a ProjectHub para formar a comissão organizadora oficial no Brasil que, até 2016, era comemorado seguindo a mesma data do calendário de Portugal.

Cortesia da imagem: ProjectHub

Esse ano, várias cidades no Brasil estarão com eventos simultâneos em praças, espaços culturais, livrarias, universidades e nas ruas, para celebrar essa data. Será um dia para envolver jovens profissionais, empreendedores, pensadores, especialistas e executivos em experiências e vivências criativas.

O Lucas me convidou para realizar a primeira edição do Dia Mundial da Criatividade em Fortaleza. Eu minha equipe estamos fazendo a curadoria dos talks, workshops, apresentações e dinâmicas, para divulgar os locais e as atividades ainda essa semana.

O dia 21 de abril será um marco histórico para quem acredita no poder da criatividade para resolver os mais complexos problemas como também inovar em seus negócios e carreiras.

Vamos celebrar?

Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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